Português, perguntado por yohana4412, 1 ano atrás

O homem nu

Fernando Sabino

Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos at

Soluções para a tarefa

Respondido por heyG
17
Qual a continuação da história? Tem pergunta?
Respondido por mariaestefanilopeswi
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Ao acordar, disse para a mulher:

— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito

com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou

a nenhum.

— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.

— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as

minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz

barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu

pago.

Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas

a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água

a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente

nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos

até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito

cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta

atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.

Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando

ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de

súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da

televisão. Bateu com o nó dos dedos:

— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.

Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.

Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir

lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!

Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador

passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas

o embrulho de pão:

— Maria, por favor! Sou eu!

Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá

de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido,

embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na

escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o

botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando

a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa

com o embrulho do pão.

Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.

— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.

E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo,

podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo

levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro

pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado

Regime do Terror!

— Isso é que não — repetiu, furioso.

Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a

parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que

sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a

chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria

subir ou descer?

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