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O dia em que vi Pégaso nascer
Meu nome é Atena.
Sou a deusa da sabedoria.
Sou filha de Zeus, o deus do universo, e de Métis, a deusa da prudência.
Nasci guerreando. Meu corpo é veloz, minha lança é mágica e a mira perfeita.
Vivo no Olimpo, o reino das nuvens, o universo in visível que paira em torno do mundo dos homens.
Há quem pense que desapareci. Mas, enquanto existirem crianças, enquanto os homens forem capazes de fantasiar, estarei viva, usando minhas armas e sabedoria para proteger os que têm coragem, ousadia e talento.
Foi por admirar a força da juventude e a pureza de espírito que resolvi ajudar Perseu, o mais nobre de todos os jovens guerreiros da antiga Grécia. Tudo começou inesperadamente, no meio de uma festa.
Eu costumava observar Perseu do alto do Olimpo e acompanhar seu treinamento de guerreiro. Ele era jovem, veloz, esperto, mas gostava de tentar fazer coisas além de suas forças.
Convidado para jantar na casa do rei, Perseu decidiu que precisava impressioná-lo. E
declarou, diante de todos os convidados, que arriscaria a vida para matar Medusa, minha
monstruosa inimiga, a criatura gigantesca que destruía todos os que se atrevessem a entrar em
seu esconderijo nas cavernas.
Medusa era o nome de uma das três cabeças que habitavam o corpo de um enorme
dragão. Suas patas mortais eram de bronze, e as pequenas asas, de ouro. Seu olhar era tão
poderoso que transformava homens em estátuas de pedra. Para vencê-la seria necessária
muita força, agilidade e toda a proteção do mundo.
Quando me contaram que Perseu havia se oferecido para enfrentar a fera, admirei sua
coragem e resolvi ajudá-lo. Assim que a luta entre ambos foi marcada, tive uma ideia: chamei
à minha presença Hermes, meu irmão, o mensageiro dos deuses, e juntos nos revelamos a
Perseu. Nós lhe dissemos que precisávamos estar ao seu lado durante a luta e que, caso
desejasse a vitória, deveria obedecer às nossas ordens.
Primeiro lhe pedimos que procurasse as ninfas, as jovens mágicas dos lagos e rios, pois
elas o amavam e fabricariam uma arma especial para ele. Perseu obedeceu, e das lindas
ninfas ganhou sandálias aladas, uma sacola mágica e um capacete que lhe deu o poder da
invisibilidade.
Hermes, achando que Perseu necessitava de mais uma arma, ofereceu-lhe uma lança leve
e cortante como a minha. Quanto a mim, resolvi acompanhá-lo pessoalmente e lutar ao seu
lado caso fosse preciso.
No dia do combate, desci até a gruta do monstro e me escondi num canto. O lugar era
repugnante. A fera exalava um cheiro horrível, o ar estava úmido e pesado, por todos os lados
eu via estátuas de pedras. [...]
A entrada de Perseu foi inesquecível. Ele rasgou os céus como uma águia. Rapidamente
aplicou um golpe certeiro no monstro e cortou uma de suas cabeças. Sangue verde espalhouse
por toda a caverna, e as duas cabeças restantes começaram a urrar. Ainda voando, Perseu
afastou-se e, em seguida, apontou sua lança contra a segunda cabeça. Ela também caiu por
terra. Só que, quando isso aconteceu, uma das patas do monstro o atingiu e Perseu perdeu
o equilíbrio. Seu capacete despencou no chão e ele imediatamente se tornou visível.
– Ah! Jovem atrevido! – gritou a Medusa com sua voz grossa e tenebrosa. No ar, Perseu
voava em círculos, mantendo-se de costas para o monstro. Ele sabia que, caso a fitasse nos
olhos, se transformaria numa estátua. – Agora você não me escapa!
Percebi que precisava entrar em cena. Lembrei-me de que tinha um escudo comigo. Gritei:
– Perseu! Apanhe o escudo, proteja-se!
Recuperando as forças, Perseu agarrou meu escudo no ar. Ele havia sido forjado pelas
ninfas. Sua superfície brilhava com a limpidez das águas e refletia imagens como um espelho.
Empunhando-o, Perseu desafiou a fera:
– Olhe para mim, criatura medonha!
Quando ela percebeu o truque, era tarde demais. Perseu levantou o escudo na altura da
cabeça do monstro. Assim que Medusa olhou para a própria imagem refletida em sua superfície polida, sentiu o corpo todo enrijecer-se e transformar-se numa gigantesca estátua acinzentada.
Perseu desceu ao solo e eu o amparei. Ele se recostou contra a parede e, ao seu lado,
presenciei uma das mais belas cenas de minha longa vida de deusa. Do sangue verde e
viscoso saiu uma luz dourada e brilhante que aos poucos foi tomando forma. Lentamente
foram surgindo os contornos de um maravilhoso cavalo alado.
O magnífico animal aproximou-se de nós e abaixou a cabeça, balançando a crina ondulante e prateada como se nos cumprimentasse. O nome Pégaso estampou-se em minha mente e
eu o acariciei. Em seguida, Perseu montou no dorso do animal para que este o levasse até
seu rei. Perseu prometera entregar-lhe a cabeça cortada de Medusa.
E que espanto meu jovem amigo causaria ao mostrar aos gregos seu luminoso animal e
seu novo escudo, com a face tenebrosa de Medusa eternamente marcada em sua superfície
mágica!