Português, perguntado por giovannagibbini, 9 meses atrás

O cronista Rubem Braga morava no Chile, em 1955, de onde enviava suas crônicas para o jornal carioca Correio da Manhã. O texto que você vai ler é uma dessas crônicas, que o autor reuniu, posteriormente, no livro Ai de ti, Copacabana.

Ao ler o texto, observe a força expressiva da linguagem do cronista.

Terremoto

Rubem Braga

Houve pânico em algumas cidades do Norte desse Meio-Norte que fica ao sul das grandes províncias do Norte Grande, e que os chilenos chamam de Norte Chico. A terra tremeu com força e em vários pontos o mar arremeteu contra ela, avançando duzentos, trezentos metros, espatifando barcos contra o cais e bramindo com estrondo. O povo saiu para as praças e passou a noite ao relento; algumas construções desabaram, mas o único homem que morreu foi de susto.

Lamentamos esse morto e também os pobres pescadores que perderam seus barcos; mas qualquer enchente carioca dá mais prejuízo e vítimas. Mas louvemos o maremoto e o terremoto pelo que eles têm de fundamentalmente pânico, pela sua cega, dramática, purificadora intervenção na vida cotidiana, pela sua lição de humanidade e de fatalidade. Talvez seja bom que os homens não se sintam muito seguros sobre a terra, e que o proprietário de imóvel possa desconfiar de que ele não é tão imóvel assim; que há diabos loucos no fundo do chão e que eles podem promover terríveis anarquias. A natureza tem outros meios de advertência, como o raio e a tromba d’água; mas são demônios do céu que nos atacam. E o homem é fundamentalmente um bicho da terra, é na terra que ele se abriga e confia; apenas se move no céu e na água, na terra está seu porto e seu pouso. Ele pisa a terra com uma soberba inconsciente, seguro dela e de si mesmo; só o terremoto consegue lembrar-lhe de maneira fundamental sua condição precária e vã e o faz sentir-se sem base e sem abrigo.

Não sei que influência tem o terremoto sobre o caráter chileno; sei que muitos poderosos de nossa terra ficariam mais simpáticos e propensos à filosofia se o nosso bom Atlântico fizesse uma excursão até Barata Ribeiro e o velho Pão de Açúcar desmoralizasse um slogan de propaganda comercial dando alguns estremeções nervosos.

Houve um tempo em que Deus bastava para tornar humilde um poderoso; hoje seus pesadelos são apenas o comunismo, o enfarte e o câncer, mas ele já se acostumou a pensar que essas coisas só acontecem aos outros. O terremoto ameaça a terra com seus bens, e a própria vida; sua ocorrência só pode tornar as pessoas mais amantes da vida e mais conscientes de sua espantosa fragilidade. E isso faz bem.

Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 18.

RUBEM BRAGA (1913-1990) nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo. Começou a escrever aos quinze anos de idade, no jornal Correio do Sul, de sua família. Formou-se em advocacia, mas sua profissão foi sempre o jornalismo. Como correspondente do jornal Diário Carioca, acompanhou a Força Expedicionária Brasileira na campanha da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Sua primeira coleção de crônicas (O conde e passarinho) foi publicada em livro em 1936. Outras obras: Com A FEB na Itália; Um pé de milho; A borboleta amarela; A cidade e a roça; Ai de ti, Copacabana; Recado de primavera; As boas coisas da vida. Sobre ele perguntou Manuel Bandeira: “Será este o segredo de Braga: pôr nas suas crônicas o melhor da poesia que Deus lhe deu?”.

Leia agora a definição de crônica abaixo. Em seguida, faça uma nova segmentação do texto, que reflita esta definição. Explique.

A crônica é um gênero intermediário entre o jornalismo e a literatura – ou seja, situa-se entre o texto informativo e o texto ficcional ou poético.

Soluções para a tarefa

Respondido por paularegina1990
7

Resposta:

O texto deve ser dividido em dois segmentos: 1º : o primeiro parágrafo, que corresponde à informação jornalística sobre um acontecimento real; 2º : os parágrafos restantes, em que o cronista utiliza o fato concreto como pretexto para os voos da imaginação e da reflexão poética.

Explicação: Plurall

Respondido por Aninhaqo
2

Resposta:

O texto deve ser dividido em dois segmentos: 1º : o primeiro parágrafo, que corresponde à informação jornalística sobre um acontecimento real; 2º : os parágrafos restantes, em que o cronista utiliza o fato concreto como pretexto para os voos da imaginação e da reflexão poética.

Explicação:PLURALL

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