O CAJUEIRO
O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro, atrás de casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.
Eu me lembro do outro cajueiro que era menor, e morreu há muito mais tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadasde-são-jorge (que nós chamávamos simplesmente “tala”)e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiçade toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e ramagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes, “beijos”, violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado de casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde.
No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos, trêmulo de sanhaços. Chovera; mas assim mesmo fiz questão que Carybé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras terras um parente muito querido.
A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela ribanceira; e caiu meio de lado, como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram, mas depois foram brincar nos galhos tombados.
Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores.
BRAGA, Rubem, 200 crônicas escolhidas.
Rio de Janeiro, 6a ed., Record/1986.
QUESTÃO 1. Uma narração consiste no relato de uma sequência de fatos que acontecem em determinado tempo e espaço e na qual as personagens interagem. O narrador pode fazer o relato em 1ª ou em 3ª pessoa . A crônica de Rubem Braga apresenta:
A
um narrador em 3º pessoa que recorda um tempo passado.
B
um narrador em 1º pessoa que recorda um tempo passado.
C
um narrador em 1º pessoa que narra fatos do presente e também fatos do passado.
D
um narrador em 3º pessoa que narra fatos do presente e também fatos do passado.
Soluções para a tarefa
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Resposta:
1-A
2-B
Explicação:fiz no classroom
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8
A crônica de Rubem Braga apresenta um narrador em 1º pessoa que narra fatos do presente e também fatos do passado, portanto, LETRA C,
Os elementos que compõem os textos narrativos são:
- enredo
- narrador
- espaço
- personagens
- tempos
- clímax
- conflito
- resolução do conflito
- conclusão dos fatos.
Algumas obras acabam destacando-se dentre do gênero narrativo, como:
- novela,
- crônica
- conto
- fábula
- apólogo
- romance.
A crônica, trata-se de um texto curto que contém somente um caso, mas que se diferencia do conto devido ao fato de ser menos apegada aos personagens e mais curta.
Sobre o narrador, há três tipos:
- narrador personagem
- narrador observador
- narrador onisciente
Leia abaixo sobre "gênero lírico, gênero épico e gênero narrativo":
- brainly.com.br/tarefa/242246
Espero ter ajudado!
Anexos:
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