O buraco da memória RIO DE JANEIRO - Coisa misteriosa, para mim, é um buraco, qualquer buraco. Na infância, ficava intrigado: quanto mais terra tirava do buraco, mais terra havia. Não acabava, a menos que eu fosse parar no Japão, que me garantiam estar bem embaixo do Lins de Vasconcelos, mas do outro lado do nosso planeta. Seria exagero, nada tinha a fazer no Japão. Memória também é um buraco, quanto mais se tira matéria, mais matéria aparece. E, ao contrário dos buracos que fazemos no quintal, nem adianta ir até o fundo, pois não há nada, nenhum Japão no fundo dela. Mexendo em papéis antigos, dei com um dos testamentos que o pai fazia de vez quando, nos raríssimos momentos em que não tinha nada a fazer. Eram muitos os seus testamentos, suas últimas declarações e vontades. Começava invariavelmente perdoando todos os seus inimigos -e ele nunca teve um inimigo. Não levava mágoas de ninguém, pois nunca se sentia magoado, um bom-dia que recebia do vizinho ou do leiteiro era uma homenagem, um tapete vermelho estendido à sua frente. Acreditava que todos gostavam dele porque gostava de todos. Não se lembrava de ter, voluntariamente, ofendido ou destratado quem quer que fosse e, se o fizera, pedia desculpas e prometia reparação -se houvesse tempo e oportunidade. Citava uma infinidade de amigos e conhecidos, dando um livro de sua biblioteca ou um selo de sua coleção a cada um deles como "penhor de sua amizade". Pedia moderação nos funerais, nada de luxos e de prantos. Aceitava preces, confessava que tinha muitos pecados e deles se arrependia. Foram vários os testamentos, todos mais ou menos iguais, somente as datas variavam. O último, feito pouco antes do fim, foi o mais enigmático, ele que não tinha enigma nenhum, era transparente e colorido como um vitral de igreja. Deixou um embrulho para mim, embrulho que nunca abri. Foi a forma que encontrei para que ele continuasse perto de mim. 1 – No primeiro parágrafo o narrador menciona uma experiência comum na infância. Indique o trecho em que é descrita a experiência dele. 2 – Considere a seguinte frase do segundo parágrafo: “ Acreditava que todos gostavam dele porque gostava de todos”. Qual frase anterior a esta equivale à ideia de o pai do narrador sentir-se especial para as outras pessoas como elas eram para ele?
3 – No quarto parágrafo, o narrador trata das amizades do pai. Qual ação do pai indica que ele dava garantia de sua amizade? 4 – No segundo e no terceiro período do quarto parágrafo começa-se a estabelecer uma relação com o quinto; uma das estratégias para construir esta relação é o emprego de palavras e expressão do mesmo campo semântico. Identifique estas palavras e explique o que elas indicam, considerando o desfecho da crônica.
Soluções para a tarefa
Resposta:
Explicação:
1 – No primeiro parágrafo o narrador menciona uma experiência comum na infância. Indique o trecho em que é descrita a experiência dele.
Na infância, ficava intrigado: quanto mais terra tirava do buraco, mais
terra havia. Não acabava, a menos que eu fosse parar no Japão, que me
garantiam estar bem embaixo do Lins de Vasconcelos, mas do outro lado do nosso planeta.
2 – Considere a seguinte frase do segundo parágrafo: “ Acreditava que todos gostavam dele porque gostava de todos”. Qual frase anterior a esta equivale à ideia de o pai do narrador sentir-se especial para as outras pessoas como elas eram para ele?
Não levava mágoas de ninguém, pois nunca se sentia magoado, um
bom-dia que recebia do vizinho ou do leiteiro era uma homenagem, um tapete vermelho estendido à sua frente. Acreditava que todos gostavam dele porque gostava de todos.
3 – No quarto parágrafo, o narrador trata das amizades do pai. Qual ação do pai indica que ele dava garantia de sua amizade?
Citava uma infinidade de amigos e conhecidos, dando um livro de sua biblioteca ou um selo de sua coleção a cada um deles como "penhor de sua amizade".
4 – No segundo e no terceiro período do quarto parágrafo começa-se a estabelecer uma relação com o quinto; uma das estratégias para construir esta relação é o emprego de palavras e expressão do mesmo campo semântico. Identifique estas palavras e explique o que elas indicam, considerando o desfecho da crônica.
funeral, testamentos, eles indicam que ele não queria nada chamativo para o funeral.
1. No primeiro parágrafo, o narrador menciona uma experiência comum na infância. O fragmento que indica o que ele sentia é este: "Quanto mais terra tirava do buraco, mais terra havia."
Por que isso é dito?
O narrador faz referência ao ato de cavar a terra, buscando chegar ao outro lado do mundo, que, muitas vezes, é base para brincadeira de crianças.
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2. A frase que equivale à ideia de o pai do narrador sentir-se especial é esta: "um bom dia que recebia do vizinho ou do leiteiro era uma homenagem, um tapete vermelho estendido à sua frente."
Como sabemos disso?
A palavra "homenagem" faz alusão ao "sentir-se especial".
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3. A ação do pai que indica garantia de sua amizade é destacada neste trecho: "Citava uma infinidade de amigos e conhecidos, dando um livro de sua biblioteca ou um selo de sua coleção a cada um deles como 'penhor de sua amizade'."
Por que isso é importante?
Porque demonstra características do personagem.
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4.As palavras e expressões usadas para estabelecer conexão ao campo semântico da morte do personagem são estas: "funerais", "prantos", "preces", "confessava que tinha muitos pecados e deles se arrependia", "testamentos" e "fim".
O que é campo semântico?
Refere-se a palavras que remontam ao mesmo sentido.
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Bons estudos!