Português, perguntado por jeericaniqueozl65n, 7 meses atrás

O autor do texto usa argumentos embasados em fatos históricos e pesquisas ou usa apenas a sua
experiência pessoal?
texto
Uma peça em três atos. Primeiro ato: Presidência dos EUA emitiu um memorando no último sábado
(04) determinando que todas as agências federais cancelem treinamentos sobre racismo; numa canetada
apaga a expressão “privilégio branco” do vernáculo presidencial. Sai a expressão, permanece a prática que a
sustenta.
Segundo ato: na sexta-feira (03), o Secretário de Cultura Mário Frias encena uma espécie de
Malhação versão Goebbels sobre heróis nacionais, numa estética europeia oitocentista cafona. Imagino que
Luiz Gama, Zumbi dos Palmares ou Zeferina não ocuparão o panteão heróico oficial. Nunca faltaram
narradores para contar as histórias dos senhores de escravos, disse certa feita o abolicionista Frederick
Douglass.
Terceiro ato: Demétrio Magnoli nos alertou neste jornal no último dia 4 sobre o “avanço da doutrina
racialista” e sobre os “ressentimentos [com o qual cotas] nutrem o racismo”. Lamenta que negros veem a
política “como profissão: meio de ganhar a vida e produzir patrimônio” e incluí-los na história política
significaria “alçar ‘negros’ a empregos bem remunerados”.(...)
Apesar de serem três atos de distintas naturezas e localidades, a peça tem algo em comum:
dificuldade de olhar na cara da História.
Raça não é importante porque nós, os ditos “racialistas” na expressão pejorativa, dizemos que é. Raça
é constitutiva das nações do transatlântico negro, porque estas nações foram construídas sobre os ossos de
pessoas negras escravizadas. Literalmente: basta ver o cemitério dos pretos novos no centro da capital do
império.(...)
O autor, ademais, compara setor privado a setor público. Ignora a parcela expressiva de negros no
serviço público por concurso, que conta com menos vieses raciais na contratação do que o setor privado.
Vieses esses provados estatisticamente no estudo “Assortative Matching or Exclusionary Hiring”, publicado na
National Bureau of Economic Research em 2018) sobre empresas brasileiras.(...)
Já que é 7 de Setembro, lembro que, na descolonização, a retórica da escravidão era comum, como
nos ensina João José Reis no belo texto “Nos achamos em campo a tratar da liberdade”, sobre a resistência

negra no Brasil oitocentista. À época era comum escutar que o Brasil era “escravo” de Portugal, e que “a
independência nos ‘libertaria’ dos ‘grilhões’ portugueses”. Alguns escravizados escutaram esta retórica e
presumiram que se falava de sua própria liberdade da escravidão. Muitos pagaram com a vida por isso.
Até hoje negros pagam caro por presumir-se livres.
Negro, o violoncelista Luiz Carlos Justino, preso na última quarta-feira por ter sido confundido com um
assaltante, somente foi liberado no domingo, apesar de haver provas de que estava tocando no momento e
hora do crime ao qual é acusado.
Não deixemos que o estrondoso ruído incômodo da branquitude ressentida ofusque o som do
violoncelo dos 20 músicos que tocaram no sábado por uma hora na frente do presídio onde estava Justino.
Que este seja o ato final desta peça chamada Brasil, o ato de liberdade.

Soluções para a tarefa

Respondido por vitorialorrane385
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Ele usa argumentos embasados em fatos históricos e pesquisas

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