ENEM, perguntado por beatrizinha18l, 11 meses atrás

O artista barroco enfrentava muitos conflitos internos o que refletiam em suas produções?

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Respondido por Karina082
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Muito mais do que uma manifestação literária, o Barroco foi uma manifestação artística. No Brasil, seus principais representantes foram Gregório de Matos e Pe. Antônio Vieira.

O poema que você vai ler agora é de autoria de Gregório de Matos, principal representante da literatura barroca no Brasil. Sua poesia interessa não apenas como arte, mas também como documento da vida social do século XVII. Matos integra o grupo de escritores que produziram, pela
primeira vez na história da então colônia portuguesa, uma literatura genuinamente brasileira ao adaptar a estética europeia e abrasileirar linguagem e temáticas.

Soneto

Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço crescer o peso, e vou-me ao fundo.

O remédio será seguir o imundo
Caminho onde dos mais vejo as pisadas,

Que as bestas juntas andam mais ornadas,
Do que anda só o engenho mais fecundo.

Não é facil viver entre os insanos,
Erra quem presumir que sabe tudo,

Se o atalho não soube dos seus danos.

O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos

Ser louco c’os demais, que só sisudo.

Embora ainda influenciada pelos modelos literários portugueses, a literatura brasileira começava a receber a contribuição dos primeiros escritores nascidos na colônia, surgindo, portanto, o sentimento nativista, isto é, o sentimento de valorização da terra natal. As origens do Barroco confundem-se com as origens da nossa própria literatura: os escritores desse período, atentos à condição subalterna da colônia ante Portugal, fizeram da literatura um instrumento para denunciar uma realidade de violência, de exploração, escravização dos negros e perseguição dos índios, na tentativa de combater a mentalidade colonialista e moralizar a população por meio de princípios religiosos. Desse período, além de Gregório de Matos, destacam-se o Pe. Antônio Vieira, Bento Teixeira (autor de Prosopopeia, obra considerada o marco inicial do Barroco brasileiro), Botelho de Oliveira, Frei Itaparica, Sebastião da Rocha Pita e Nuno Marques Pereira.

“(...) Suponho finalmente que os ladrões de que falo não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria, ou escusa, ou alivia o seu pecado, como diz Salomão: Non grandis est culpa, cum quis furatus fuerit: furatur enim ut esurientem impleat animam. (10).O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento, distingue muito bem S. Basílio Magno: Non est intelligendum fures esse solum bursarum incisores, vel latrocinantes in balneis; sed et qui duces legionum statuti, vel qui commisso sibi regimine civitatum, aut gentium, hoc quidem furtim tollunt, hoc vero vi et publice exigunt: Não são só ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa: os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. — Os outros ladrões roubam um homem: estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu risco: estes sem temor, nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados: estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: — Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. — Ditosa Grécia, que tinha tal pregador! E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecera a justiça as mesmas afrontas! Quantas vezes se viu Roma ir a enforcar um ladrão, por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado uma província. E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes? De um, chamado Seronato, disse com discreta contraposição Sidônio Apolinar: Nou cessat simul furta, vel punire, vel facere: Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furtos, e em os fazer. — Isto não era zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os ladrões do mundo, para roubar ele só (...)”.

Fragmento do “Sermão do bom ladrão”, Padre Antônio Vieira.

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