O acendedor de lampiões e nós
Outro dia tive uma visão. Uma antevisão. Eu vi o futuro. O futuro estampado no passado. Como São João do Apocalipse, vi descortinar aos meus olhos o que vai acontecer, mas que já está acontecendo.
Havia acordado cedo e saí para passear com minha cachorrinha, a meiga Pixie, que volta e meia late de estranhamento sobre as transformações em curso. Pois estávamos perambulando pela vizinhança quando vi chegar o jornaleiro, aquele senhor com uma pilha de jornais, que ia depositando de porta em porta. Fiquei olhando. Ele lá ia cumprindo seu ritual, como antigamente se depositava o pão e o leite nas portas e janelas das casas.
Vou confessar: eu mesmo, menino, trabalhei entregando garrafas de leite aboletado na carroça do “seu” Gamaliel, lá em Juiz de Fora.
E pensei: estou assistindo ao fim de uma época. Daqui a pouco, não haverá mais jornaleiro distribuindo jornais de porta em porta. Esse entregador de jornais não sabe, mas é semelhante ao acendedor de lampiões, que existia antes de eu nascer. Meus pais falavam dessa figura que surgia no entardecer e acendia nos postes a luz movida a gás, e de manhã vinha apagar a tal chama.
Esse tipo foi imortalizado no soneto que Jorge de Lima escreveu aos 17 anos e publicou em 1914:
O acendedor de lampiões
Os próprios jornais estão alardeando que os jornais vão acabar, ou seja, vão deixar de ser impressos para virar um produto eletrônico. Não vamos mais folhear o jornal, sentir o cheiro de papel, nem ir à banca. Vamos ter um aparelho receptor onde aparecerão texto e imagem do jornal.
E isso já começou. É irrefreável. Os mais velhos vão dizendo que preferem ler o livro em papel e não abrem mão do jornal antigo. Mas o jornal e o livro é que estão abrindo mão deles. Os mais jovens, como se constata, já nascem lendo na tela, eletronicamente. Como se dizia antigamente: resistir quem há de?
Tento me adaptar. Passei do mimeógrafo a álcool e do papel carbono à máquina elétrica e depois ao computador. Já tenho site, tenho blog e acabei de entrar no Twitter.
Claro que o livro impresso vai continuar como uma variante. Mas o entregador de jornais vai ser tipo histórico como o acendedor de lampiões. Assim caminha a humanidade, já dizia o filósofo James Dean. E, em relação a essas formidáveis e assustadoras mudanças, me vem aquela frase de Marshall McLuhan, enunciada há 50 anos — “Ao ver uma deslumbrante borboleta, a larva disse: ‘Jamais me transformarei num monstro desses’. E, dito isso, se transformou”.
SANT'ANNA, Affonso Romano de. Caderno Cultura. Estado de Minas, 22 agosto de 2010, p.8. (adaptado)
No texto, o poema de Jorge de Lima foi transcrito para
Origem: IFMG
a) exemplificar como as tecnologias utilizadas pelo homem têm evoluído.
b) comprovar que o ser humano é capaz de se adaptar a qualquer novidade.
c) evocar a memória de um tipo de atividade fundamental na época em que o narrador era criança.
d) demonstrar por comparação a tese de que os entregadores de jornais deixarão de existir em breve
Soluções para a tarefa
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Resposta:
Mano se vc tivesse colocado uma foto seria mas fácil
leticialuparele10:
essa é a pergunta, não possui foto
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2
Resposta: D
Explicação: Na crônica de Affonso Romano de Sant'Anna, a tese de que os entregadores de jornais deixarão de existir em breve é demonstrada pela comparação que o autor faz com os acendedores de lampião (“Esse entregador de jornais não sabe, mas é semelhante ao acendedor de lampiões, que existia antes de eu nascer”, “Mas o entregador de jornais vai ser tipo histórico como o acendedor de lampiões”).
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