Question

No trecho abaixo, Brás Cubas nos narra o encontro com Prudêncio, ex-escravo de seu pai que, uma vez libertado, adquirira seu próprio escravo. Na cena abaixo, Prudêncio agredia esse escravo. [...] perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele. - É, sim, nhonhô. - Fez-te alguma cousa? - É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber. - Está bom, perdoa-lhe – disse eu. - Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado. Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas. (p.169-170) QUESTÃO: No trecho acima, Machado de Assis contraria a norma padrão da língua para caracterizar a coloquialidade da fala de uma de suas personagens. Esse desvio pode ser observado na construção: Escolha uma: a. “fez-te alguma cousa”, pelo erro ortográfico na escrita da palavra “coisa”. b. “fez-te alguma cousa”, pelo uso inadequado do pronome oblíquo “te” de segunda pessoa do singular. c. “ainda hoje deixei ele na quitanda”, pelo uso do pronome do caso reto “ele” depois do verbo, com a função de objeto direto. d. “enquanto eu ia lá embaixo na cidade”, uma vez que o pronome “eu” não pode desempenhar o papel de sujeito. e. “entra para casa, bêbado”, pela inadequação do vocativo “bêbado” à circunstância.

Answer 1

Esse desvio pode ser observado na construção:

c. “ainda hoje deixei ele na quitanda”, pelo uso do pronome do caso reto “ele” depois do verbo, com a função de objeto direto.

A norma padrão recomenda que os pronomes retos sempre exercem função de sujeito, e os pronomes oblíquos exercem a função de objeto.

Assim, o uso do pronome reto "ele" como complemento do verbo "deixei" está inadequado à norma padrão.

O correto seria usar o pronome oblíquo "o".

Correção: "Aina hoje deixei-o na quitanda."

Machado deve ter optado por essa construção, pois queria reproduzir fielmente a fala do personagem.