no texto(não te amo) no primeiro verso o eu lírico estabelece uma oposição que íra desenvolver ao longo do poema.que oposição é essa? Não te AmoNão te amo, quero-te: o amor vem d'alma.E eu n 'alma – tenho a calma,A calma – do jazigo.Ai! não te amo, não.Não te amo, quero-te: o amor é vida.E a vida – nem sentidaA trago eu já comigo.Ai, não te amo, não!Ai! não te amo, não; e só te queroDe um querer bruto e feroQue o sangue me devora,Não chega ao coração.Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.Quem ama a aziaga estrelaQue lhe luz na má horaDa sua perdição?E quero-te, e não te amo, que é forçado,De mau, feitiço azadoEste indigno furor.Mas oh! não te amo, não.E infame sou, porque te quero; e tantoQue de mim tenho espanto,De ti medo e terror...Mas amar!... não te amo, não.
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1. A oposição entre amor e querer. Como o eu lírico se preocupa em deixar claro que aquilo que sente é querer e não amor, pode-se imaginar que o seu interlocutor seja a mulher que desperta esse querer. Isso fica claro na declaração inicial: "Não te amo, quero-te".
2. O amor é apresentado como um sentimento que vem da alma e, em seguida, como sendo sinônimo de vida. Segundo o eu lírico, o amor vem da alma e, como na sua alma ele tem a "calma do jazigo" (ou seja, não há qualquer sentimento que agite a sua alma, ela se encontra tão calma como um túmulo), não pode estar vivendo um amor. Na segunda estrofe, quando associa o amor à vida, o eu lírico reafirma a impossibilidade de estar amando, já que a vida "nem sentida! A trago eu já comigo"
3. O querer é apresentado como um sentimento bruto e fero, como algo que devora o sangue, como uma estrela de mau agouro que brilha no momento da perdição, como um furor, como algo que desperta medo e terror. Todas as imagens associadas ao querer têm conotação negativa. A mais forte delas o apresenta como uma estrela de mau agouro que brilha no momento da perdição do indivíduo. O querer, quando toma conta de um indivíduo, portanto, é capaz de determinar um destino negativo, de tristeza e destruição..
4. O drama individual é vivido pelo eu lírico, que se confessa vítima de um querer incontrolável. Apesar e e e apresentar vários argumentos que identificam o querer como um sentimento negativo, não parece conseguir livrar-se desse fogo que lhe devora o sangue e faz com que sinta "medo e terror" da mulher capaz de aprisioná-lo de modo tão violento. A luta interna entre o sentimento desejado - o amor - e o indesejado - o querer - é um dos temas muito explorados pelos poetas românticos. O poema explora a ideia romântica de que o amor é um sentimento nobre, algo que traz vida, calma e promove uma certa purificação do indivíduo. O querer, por outro lado, nasce dos desejos carnais, provoca descontrole, faz com que o indivíduo se veja "prisioneiro" do objeto de seu desejo. O poema de Garrett pode ser visto, nesse sentido, como um manifesto contra o desejo, já que o eu lírico passa todo o tempo lutando contra o querer que o aprisiona.
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