Neste poema, Drummond faz uma paródia de um texto muito conhecido de Gil Vicente, autor português do século XVI.
Gil Vicente – 1465(?)-1536(?) – é considerado o criador do teatro em língua portuguesa. Entre suas obras mais conhecidas estão as peças Quem tem farelos?, Farsa de Inês Pereira, O velho da horta (farsas), Auto da barca do inferno e Auto da Lusitânia. Nesta última encontramos o diálogo “Todo o Mundo e Ninguém".
Os efeitos de humor do texto são conseguidos sobretudo pelos contrastes.
a) Releia o texto e faça uma lista de valores opostos buscados pela duas personagens principais do texto.
b) Explique o contraste que se estabelece entre as falas das personagens, que têm uma presença física na representação teatral, e as anotações de Belzebu. Utilize o seguinte exemplo:
Todo Mundo Eu sou vidrado em tapear,
e mentir nasceu comigo.
Ninguém A verdade eu sempre digo
sem nunca chantagear.
Belzebu Boto anúncio na cidade,
Todo Mundo é mentiroso
e Ninguém fala verdade.
Soluções para a tarefa
Resposta:
na questão A
Todo mundo:
dinheiro, poder, gloria, ser elogiado, vida, paraíso, tapear, mentir, puxar saco e bajular
ninguém:
consciencial, virtude, ser compreendido, morte, pagamento de dividas, verdade, ser sincero
B:
Quando a personagem diz que gosta de mentir ou tapear, ou que sempre diz a verdade, temos características e ações individualizadas, ou seja, pertencentes às personagens que atuam no palco. Nas anotações de Belzebu, essas características deixam de ser das personagens, passando a pertencer aos significados delas, ou seja, aos seres em geral representados pelos pronomes indefinidos todo mundo e ninguém. É nesse contraste entre a fala das personagens e os comentários de Belzebu que se efetivam os significados alegóricos das personagens. Deve-se observar também que a fala da personagem Ninguém é afirmativa (A verdade eu sempre digo, mas, no comentário de Belzebu, ela se torna negativa: Ninguém fala verdade).