Artes, perguntado por lemosxavier18, 7 meses atrás

Nas intervenções urbanas , qual elemento é considerado o “grande motor” desta pratica

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Respondido por felipebriet188
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Dando sequência à matéria da semana passada que falava sobre a questão das recomposições da existência, trataremos da questão da revitalização da alma da cidade. Mas, trataremos deste tema movidos pela concepção das composições urbanas como estratégias para a produção de paisagens singulares. As composições urbanas já existem há décadas como forma de ação da arte, da cultura e de outras formas de expressão humana como forma de visibilizar os processos da vida da cidade, suas relações, seus conflitos, suas possibilidades de invenção de novos modos de viver, dentre outras orientações. Desejamos pensar a relação das composições urbanas naquilo que concerne a noção ‘Alma Urbana e a Criação’. Para pensar a questão da ‘Alma Urbana’, traremos a grande contribuição do filósofo francês Laurent Bove quando este nos apresenta a noção de alma a partir da filosofia de Vauvernagues, filósofo do século XVIII. Laurent Bove nos fala que a noção de alma para Vauvernagues é a vida do espírito e do corpo. O conceito de alma reúne, a um só tempo, a vitalidade do ser, sendo o esforço que cada ser faz por perseverar em seu próprio ser. Desta forma, a noção de alma em Vauvernagues se coincide com a perspectiva do conatus de Spinoza, filósofo do século XVII. Alma e conatus sendo a potência que cada ser traz consigo como potência de vida, como força de regeneração que recompõe cada pessoa, cada ser, a cada instante, na relação com o mundo.

               Desta forma, pensar as composições urbanas, isto é, as ações através de inúmeras estratégias na cidade será, por sua vez, estar atento aos processos de recomposição e regeneração da vida, dos novos processos de sentir, pensar e agir derivados destas mesmas composições. A Heterogênese Urbana tem este movimento! Há 15 anos buscamos, através das artes, da cultura, da educação, da filosofia, dos saberes das pessoas, das inúmeras outras capacidades humanas e ecológicas produzir o que denominamos como o Urbanismo sócio-político-cultural. Nosso mandato é o de produzir Paisagens de Vida: paisagens que se recompõem a cada instante. Estas são as paisagens onde vemos os diversos modos de ser se esforçarem,  através da força dos desejos, à construção de algo em comum, produzindo uma história em comum. Assim inúmeras composições da Heterogênese Urbana são produzidas por heterogêneos modos de ser, através de inúmeras instituições que contribuem para a produção da criação de novas paisagens urbanas.

Assim na praça Veríssimo de Mello crianças, adolescentes, adultos, artistas, profissionais da saúde, da educação, pessoas que transitam na praça e instituições interessadas em contribuir com a criação de novas paisagens de vida para as pessoas, produzem a ‘Alma Urbana’ de cada encontro. As inúmeras falas, sentimentos, músicas, poesias, textos, danças, nas suas diversas manifestações, vêm dar vida ao desejo de cada um, agregando os desejos dirigidos numa só direção: ultrapassar o individualismo, o egoísmo, a competição, a inveja, o orgulho, a vaidade, a intolerância frente aos diferentes pontos de vista, dentre outros sentimentos que só afastam as pessoas umas das outras. As composições urbanas da Heterogênese Urbana não nasceram do nada, nem em relação a algum modismo que as políticas públicas inventam a cada momento histórico, ou mesmo movidas por alguma teoria e tendência acadêmica. As composições da Heterogênese Urbana nasceram da crítica à lógica sobre a psicopatologia, nosografia e nosologia – conceitos caros ao campo da saúde mental -, buscando outras visões de mundo, outras visões que expressem a complexidade da vida humana, da vida em sociedade. Assim a filosofia de Spinoza veio ser o grande motor para pensar a complexidade da potência humana. A potência humana sendo compreendida como as capacidades de cada ser tem de se afetar e de ser afetado a cada instante, a cada encontro. Daí cada pessoa será compreendida pelas capacidades que têm em se compor com os outros: suas capacidades de amar, de ser amado, de sentir o outro, de se deixar ser sentido pelo outro, de prestar atenção ao outro, de prestar atenção a si mesmo, de cuidar de si, de cuidar do outro, de cuidar da cidade, da capacidade de cuidar do planeta, da capacidade de se expressar, de fazer silêncio, de escutar o outro, e tantas e tantas outras capacidades que se manifestarão a cada encontro. A cada encontro cada pessoa expressa a sua alma, isto é a sua capacidade de estar num dado encontro. Daí pensar as composições da Heterogênese Urbana pela lógica das potências de cada pessoa será poder verificar quais são as capacidades que cada pessoa expressa em cada encontro, ampliando-as ou retraindo-as.

               Composições Urbanas, Alma Urbana e Criação: os desejos, interesses comuns formando um grande corpo-espírito a cada acontecimento. Assim a Heterogênese Urbana vem compor um Tribalismo Urbano, no seio da cidade, no coração da cidade, como no coração de uma floresta, no seio da natureza.

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