“Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos
cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava
manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No
tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do
mundo era tranquila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que
pensávamos. Ao mesmo tempo que imaginário – era um mundo de se comer com
os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos
por parasitas folhudos, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse
uma entrega – era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante. As árvores
estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que
havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como
se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do jardim era outra. Agora que o
cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante,
sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas
na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates.
A decomposição era profunda, perfumada... mas todas as pesadas coisas, ela via
com a cabeça rodeada por um enxame de insetos, enviados pela vida mais fina do
mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu
cheio adocicado... O jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.”
(LISPECTOR, C. Amor. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. P. 25)
1. A personagem Ana, uma dona de casa comum, tem um momento
privilegiado de revelação quando desce errado do ponto e acaba indo parar
quase sem querer no Jardim Botânico. Neste momento, várias imagens vão
configurando um universo de sensações inesperadas em contato com uma
natureza que sempre esteve no mesmo lugar. Por que agora a percepção
desse mundo se torna diferente?
a) Porque a autora reforça a condição alienada da personagem.
b) Porque a autora conduz a personagem a um conto-de-fadas onde apenas cabe a
mentira
de suas aspirações pessoais.
c) Porque a personagem consegue perceber uma verdade que estava escondida
dentro dela mesma.
d) Porque a personagem vive um momento psicótico que pode levá-la ao suicídio.
e) Porque a autora permite que a personagem desloque para o Jardim Botânico as
suas
aspirações frustradas que apenas empobrecem aquele espaço.
preciso muito disso
Soluções para a tarefa
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c espero ter ajudado
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letra c
Explicação:
O jardim continua exatamente o mesmo, porem ela começa a ver oque ela achava q tava escondido, a decomposiçao dos frutos e flores, os insetos e as coisas q ela considera ruin
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