História, perguntado por bruninhastefan1, 11 meses atrás

Narrativa do Paulo lins

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Respondido por thaisandrade3
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“Cidade de Deus”

A “neofavela” de Cidade de Deus
“Cidade de Deus”, primeiro romance de Paulo Lins, é fruto de um intenso trabalho antropológico realizado pelo autor no período que vai de 1986 a 1993 na própria favela que dá título à obra. Tendo morado na Cidade de Deus, Paulo Lins conhece o cotidiano, as histórias, a violência e toda a vida do local, transferindo tudo isso de forma não só literária, mas também documental, para a sua obra. Dessa forma, a história narrada em Cidade de Deus é baseada em fatos reais. Para tentar diferenciar este local caótico das antigas favelas, que eram redutos do samba e da boa malandragem carioca, e redefinir o local onde cresceu, Paulo Lins utiliza

O livro é dividido em três partes e traça um painel das transformações sociais pelas quais passou a Cidade de Deus, desde sua criação e os pequenos assaltos que aconteciam durante os anos de 1960, ao caos e violência extrema causados pelo tráfico de drogas nos anos 90. Assim, com exceção de alguns flashbacks, a narrativa segue uma linha cronológica linear e os fatos são narrados conforme vão acontecendo.



Porém, por mais que a narrativa seja linear, ela segue um ritmo frenético e possui uma grande variedade de estilos. Essa variação no estilo da narrativa também é causada pela grande liberdade com que o narrador, que é onisciente e em terceira pessoa, conta a história. Constantemente há cortes na narrativa que servem para apresentar ou descrever uma personagem, contar algum fato, ou ainda para descrever o local. De fato, a descrição pormenorizada do local, das personagens e também da brutalidade com que os crimes são feitos é uma das características principais da obra. Por conta disso, a obra se aproxima dos romances real-naturalistas na medida em que há uma animalização das personagens (imposição do poder através da “lei do mais forte”, a crueldade, o apetite sexual desgovernado, etc) e também um exagero nas descrições de pormenores das brutalidades narrados. Outra característica que aproxima Cidade de Deus dos romances naturalistas é o fato da própria favela – o ambiente – ter grande destaque dentro da obra, sendo o destino das personagens carregado de um certo tom fatalista por elas não conseguirem escapar da realidade que o local impõe.

Na primeira parte do romance, acompanha-se a ocupação do local e as histórias das pessoas que se mudaram para lá e formaram a Cidade de Deus. Vê-se o surgimento das quadrilhas e seus pequenos assaltos, movidos mais pela vontade de obter dinheiro e levar uma vida mais confortável do que pela sede de poder. Dessa forma, ainda tem lugar de destaque na narrativa o amor e o casamento, uma forma simples e quase idealizada do “viver feliz”. Por sua vez, a atuação da polícia no combate ao crime é, apesar de violenta, efetiva.

Já na segunda parte, tem-se a ascensão do tráfico de drogas e o início da luta pelo poder e comando da Cidade de Deus. Essa fase da favela é marcada pela ambígua ação dos criminosos: se por um lado os comandantes respeitam a comunidade e dão proteção a seus moradores, por outro eles são extremamente violentos e cruéis com seus inimigos. Em paralelo, há o surgimento da classe dos “cocotas”, jovens de classe média alta que vão ao morro em busca de drogas e diversão. A descrição dos diversos grupos que compõem a comunidade da Cidade de Deus também tem lugar na narrativa, com destaque para a vida dos homossexuais através da personagem Soninha (ou Ari) e seu romance com Guimarães. Além disso, a corrupção do sistema carcerário e dos policiais começa a ser um traço marcante na história.

Por fim, na terceira parte, que é centrada em Zé Pequeno, o mais temido comandante do tráfico na Cidade de Deus, acompanha-se a busca desenfreada pelo poder na favela e o verdadeiro estado de guerra que surge no local. As intermináveis mortes, a rápida sucessão com que o comando do tráfico se dá, a corrupção da polícia e suas chacinas, tudo isso é narrado com grande crueza e realismo. Em contraparte, surge a figura do homem que quer fazer justiça com as próprias mãos (o Mané Galinha), mas que por fim acaba morrendo sem conseguir mudar o destino da favela.

Respondido por wendelluis09owe4i3
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O presente trabalho propõe-se a fazer um estudo do romance Cidade de Deus (1ª ed. 1997) de Paulo Lins, com vistas a compreender o modo como o autor constrói a ficcionalidade no interior do texto. Obra singular da literatura brasileira, foi escrita a partir de um projeto da antropóloga Alba Zaluar sobre criminalidade no Rio de Janeiro – do qual Lins foi colaborador –, que incluiu a realização de uma série de entrevistas. Por ser palco de uma das mais violentas localidades da capital do estado do RJ, o conjunto habitacional Cidade de Deus suscitou e continua a impulsionar discussões sobre temas complexos e polêmicos da atualidade brasileira, decorrentes de reflexões sobre o espaço da favela nos grandes centros. Colocam-se aí temas como a infantilização da violência, o tráfico de drogas, o porte ilegal de armas, dentre outros. Produzido no espaço da cultura brasileira contemporânea, o texto, ao mesmo tempo em que apresenta marcas de sua época, mostra-se como um trabalho original de recriação e pesquisa estética. A proposta busca, justamente, as marcas de literariedade na construção elaborada das personagens, no estabelecimento de conflitos, nas descrições do espaço, na passagem do tempo e na singularidade do foco narrativo. O escritor consegue reunir gêneros textuais e literários díspares – como a épica, a poesia e as produções de massa – e criar uma narrativa complexa que surpreende e foge às expectativas racionalmente lógicas e morais do leitor.(...)


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