Não há segundo ato nas vidas americanas, disse Scott Fitzgerald, mas há nas vidas brasileiras: segundo, terceiro, décimo ato. Num desses atos – misteriosos são os desígnios da Providência – fui um pivete. Não por muito tempo, devo dizer. Na verdade, por muito pouco tempo, e em circunstâncias especiais. Aconteceu no Bom Fim, e numa época em que o bairro ainda não era barra-pesada. Nós estávamos na rua João Telles, uma noite, e jogávamos futebol no meio da rua. O futebol não é um esporte silencioso, e algazarra nós fazíamos, não muita, mas o suficiente para incomodar um dos moradores, que veio à janela e mandou-nos embora. Seguiu-se uma áspera troca de palavras, e a janela fechou-se, no que parecia uma retirada. Não era. Enquanto continuávamos o jogo, o homem chamava a polícia. Minutos depois encostava na rua uma viatura da PM. Podíamos, ou devíamos ter fugido: na verdade, porém, não nos ocorria que o objetivo das forças da lei era o nosso precário futebol. Para nossa surpresa os policiais vieram em nossa direção. Um deles olhou-me (nunca imaginei ter aparência perigosa) e, abrindo a porta do camburão, ordenou: - Entra! Vacilei. Olhei lá dentro. Era um compartimento escuro e apertado aquele, um lugar de aparência sombria. Mas o pior era o significado de entrar ali. Quando a porta se fechasse, com estrondo, sobre mim, eu não apenas estaria separado de meu bairro, de meus amigos, de minha família. Eu estaria penetrando numa outra realidade, tão escura, apertada e sombria quanto o compartimento dos presos no camburão. Eu estaria ingressando na marginalidade, e quem me garantia que dela sairia? Não seria aquele o meu primeiro passo numa carreira (talvez bem-sucedida; talvez trágica; quem conhece os desígnios da Providência?) de gângster? O policial esperava, impaciente, e eu não me decidia, mas aí o destino interveio, sob a forma de um morador. Dirigindo-se aos homens da lei, ele ponderou que não valia a pena me levar, mesmo porque me conhecia e estava seguro de que eu era um bom guri. Tive sorte. Temos, todos nós, muita sorte. Em nome desta sorte devemos pensar, cada vez que olhamos um suposto pivete, que ele pode, afinal, ser um bom guri. SCLIAR, Moacyr. Um país chamado infância. São Paulo: Ática, 2002.
Questionário
1. Qual o tema do texto?
2. Você acha que as crianças estavam praticando o esporte competitivamente ou apenas por lazer?
3. A atitude do morador foi correta? Por quê?
4. Como você agiria no lugar dele?
5. Todas as crianças têm acesso ao esporte ou ao lazer?
6. Qual a relação entre o texto e o tema Esporte x lazer?
PRA AGORAAA DOU 15 PONTOS
emaildadesocupadaa:
DOU MAIS DE 20 PONTOS
Soluções para a tarefa
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11
Resposta: 2 - Por lazer
Explicação:
Respondido por
2
Resposta:
02. Se observarmos melhor o texto, o narrador dele é também uma dos personagens pois conta a sua própria história. Qual é o fato mais importante do texto para o narrador?
Explicação:
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