Na tradição científica racionalista que é a nossa, consideramos que a razão nasceu na
Grécia há 2.500 anos. Alguns chegaram a pensar que o surgimento dessa razão marcou uma
ruptura em todos os planos, uma ruptura total com o que existia antes, ou seja, para eles o
irracional. Não importa como o batizamos: superstição, mito, falta de lógica. Mas, grosso modo,
este é o esquema. Essa interpretação implica o advento de uma atitude mental que teria, de
forma absolutamente decisiva, instaurado um caminho de pensamento totalmento novo. Um
caminho do Ocidente e ao qual a ciência e a filosofia estão ligadas.
Durante muito tempo, para muitos pensadores e historiadores, a volta aos gregos era
isso. Para eles, havia aqueles que estavam por fora, as civilizações do Oriente Próximo, por
exemplo, embora tivessem conhecido uma astronomia desenvolvida e as pessoas dessas
civilizações não tivessem vivido na confusão. Em todo caso, nessa perspectiva, não teriam
chegado a esse estágio que é inaugural para o destino do pensamento. Logo, antes dos gregos
do século VI a.C. era diferente e ao lado dos gregos era ainda mais diferente. É claro que
devemos examinar essa interpretação, pois ela cria dificuldades em todos os sentidos!
No século VI a.C., nas cidades jônias, essencialmente em Mileto, vemos surgir uma
linhagem de filósofos. São eles: Tales, Anaxímenes e Anaximandro, que os próprios gregos
consideraram como os primeiros filósofos. Teriam realmente inaugurado um novo modo de
reflexão? Uma forma de racionalidade totalmente inédita? E poderíamos dizer que antes deles
não existia racionalidade? Não creio. Sempre houve ao mesmo tempo racionalidade e
irracionalidade, e de forma absolutamente solidária. Os babilônios tiveram sua forma de
racionalidade e os chineses a sua. Por certo, a racionalidade grega, que os jônios iriam instituir,
vai permitir que se progrida em um plano determinado. Vai permitir, por exemplo, à ciência
ocidental avançar em vias por onde os outros não conseguiam passar. Em compensação, como
demonstrou Joseph Needham, certos campos de estudos permanecem fechados, certas
hipóteses proibidas. Assim, tudo o que não era consideração sobre a massa ou o estado
permanente das coisas, tudo o que, ao contrário, era da ordem do fluxo, do magnetismo, tudo
isso foi rejeitado pelos gregos como sendo irracional. Enquanto isso, os chineses foram capazes,
aos se interessarem por esses fenômenos, de ir muito além em diversos setores. Beneficiando-
se de outro tipo de racionalidade, puderam integrar esses fênomenos a um modo de
pensamento racional. Assim, a questão é muito mais complexa do que se pode crer.
Levando em conta estas primeiras nuanças, o que acontece nas cidades gregas no
Oriente por volta do século VI a.C.? E, em primeiro lugar, qual é o contexto da civilização de que
vai emergir um modo de pensamento novo? Trata-se de uma civilização oral, em que a poesia,
que é um canto dançado e ritmado, ocupa o primeiro plano da cena intelectual. Encontramos a
epopéia, a poesia lírica e uma poesia de forma ao mesmo tempo épica e sapiencial como em
Hesíodo. Naquele momento, os poetas eram cantores e tudo era transmitido oralmente.
Primeira mudança notável: o surgimento da prosa. Ou seja, de textos que estão em prosa. Não
podemos fazer a análise das mudanças nos modos de pensamentos e na instauração da
racionalidade se não levarmos em conta o fato de que a expressão poética é diferente da
expressão prosaica. Este é o primeiro ponto importante. O segundo ponto, igualmente
importante, está ligado a este aspecto prosaico: trata-se da passagem do canto oral aos textos.
Alguém me ajuda a fazer um fichamento desse texto ?
Soluções para a tarefa
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Para os filósofos gregos, a natureza é regida por leis e princípios que podem perfeitamente ser de domínio dos
homens, desde que se exercite o espírito críttico e a razão.
O pensamento mítico, por sua vez, têm por fundamento que a ordenação do mundo ou os fenômenos naturais
estão no campo do mistério e sobre o qual o homem não exerce qualquer ação, sendo este, portanto, domínio dos
deuses.
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