Muitos reinos africanos do Sul do Saara passaram a praticar o Islã. Explique como aconteceu esse processo:
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A islamização no continente africano se difundiu muito mais pelo comércio e pela migração do que por conquista militar. A expansão do islã na África seguiu três direções: do noroeste do continente (região do Magreb), ela avançou pelo Saara e alcançou a África Ocidental. A segunda direção foi aquela que, partindo do baixo para o alto vale do Nilo, chegou ao nordeste da África (península da Somália e arredores). Por fim, comerciantes originários da porção sul-sudoeste da Península Arábica e imigrantes do subcontinente indiano, criaram assentamentos no litoral do Índico e, dali, difundiram a presença muçulmana para o interior.
O islamismo fez sua entrada no continente a partir da África do Norte, do Egito ao Marrocos, sendo uma das primeiras regiões a ser conquistadas pela expansão inicial árabe-islâmica (séculos VII e VIII).
Na porção oriental do continente, comerciantes árabes conseguiram se fixar junto ao litoral do Índico, levando a gradual conversão de grupos africanos que viviam em áreas da atual Eritréia e do leste da Etiópia. Todavia, os reinos cristãos do alto vale do Nilo conseguiram bloquear por séculos o avanço muçulmano, como foi o caso dos grupos etíopes, ocupantes dos altos planaltos da Etiópia. Nos séculos seguintes, a cultura árabe-muçulmana influenciaria grupos bantos que estavam em processo de expansão para a África oriental e meridional.
Paralelamente, comerciantes árabes cruzaram o Oceano Índico e criaram, do Chifre da África ao atual Moçambique, um conjunto de importantes cidades-Estado e fortalezas, junto ao litoral e nas ilhas, cujo comércio de ouro se manteve até o início da presença portuguesa no século XVI. Às vésperas do início da colonização européia, o islã se constituía na principal presença "importada" no continente, presença esta que já estava fortemente integrada às sociedades africanas.
O islã na África após 1800
Uma nova fase da islamização no continente iniciou-se no século XVIII, fenômeno que coincidiu com o auge da época escravista. Embora a servidão já existisse em várias sociedades da África Ocidental, a captura de seres humanos acelerou, a ponto de surgirem, no litoral do Golfo da Guiné, novos "Estados", como o Daomé (atual Benin) e Ashanti (atual Gana), como resposta à crescente procura por escravos que eram enviados, em sua maioria, para servir como mão-de-obra nas plantations da América tropical.
As armas de fogo que os mercadores de escravos ganhavam em troca dos seres humanos apresados facilitavam novas capturas que contribuíram para dizimar populações inteiras. Ao mesmo tempo, esse perverso processo transformou os grupos caçadores e mercadores em uma nova elite. Parte dos escravos vendidos eram muçulmanos e foi através deles que surgiram os primeiros núcleos islâmicos nas Américas. Na África Oriental, os escravos capturados eram, em sua maioria, “direcionados” para o Oriente Médio.
No século XIX, o impacto colonial mudou profundamente o quadro existente até então. Colonialistas europeus - franceses e britânicos, além de belgas, italianos e portugueses – criaram e consolidaram impérios concorrentes que puseram fim aos "Estados" islâmicos independentes. Os ingleses, que até o século anterior haviam sido os principais organizadores do tráfico negreiro, passaram a impor o seu fim e, onde foi possível, aboliram a escravidão. A diminuição do comércio de escravos trouxe conseqüências negativas para as elites escravistas muçulmanas, desestruturando as estruturas estatais existentes.
A Grã Bretanha concentrou suas energias colonizadoras no projeto geopolítico de manter um domínio territorial contínuo, "do Cairo (Egito) até a cidade do Cabo (África do Sul)", eliminando eventuais "Estados" muçulmanos que estavam no caminho. Por outro lado, em algumas áreas da África Oriental, os britânicos promoveram a vinda de trabalhadores rurais muçulmanos originários das Índias britânicas para regiões das atuais Uganda e África do Sul.
A evolução do colonialismo nas regiões da África muçulmana, gerou uma situação paradoxal: ao mesmo tempo em que os muçulmanos perdiam poder político, o islamismo teve um crescimento sem precedentes. Tribos inteiras se converteram. Isso ocorreu no contexto das rápidas transformações socioeconômicas engendradas pela colonização.
A urbanização e o enfraquecimento das tradições familiares e sociais, bases fundamentais das culturas africanas, geraram um ambiente conturbado que beneficiou o islã, religião que combina o universalismo de sua mensagem com uma ideologia de clara oposição ao Ocidente imperialista. Aliás, é essa combinação que explica, em grande medida, a condição do islamismo ser, na atualidade, a religião com o maior ritmo de crescimento em todo o mundo.
O islamismo fez sua entrada no continente a partir da África do Norte, do Egito ao Marrocos, sendo uma das primeiras regiões a ser conquistadas pela expansão inicial árabe-islâmica (séculos VII e VIII).
Na porção oriental do continente, comerciantes árabes conseguiram se fixar junto ao litoral do Índico, levando a gradual conversão de grupos africanos que viviam em áreas da atual Eritréia e do leste da Etiópia. Todavia, os reinos cristãos do alto vale do Nilo conseguiram bloquear por séculos o avanço muçulmano, como foi o caso dos grupos etíopes, ocupantes dos altos planaltos da Etiópia. Nos séculos seguintes, a cultura árabe-muçulmana influenciaria grupos bantos que estavam em processo de expansão para a África oriental e meridional.
Paralelamente, comerciantes árabes cruzaram o Oceano Índico e criaram, do Chifre da África ao atual Moçambique, um conjunto de importantes cidades-Estado e fortalezas, junto ao litoral e nas ilhas, cujo comércio de ouro se manteve até o início da presença portuguesa no século XVI. Às vésperas do início da colonização européia, o islã se constituía na principal presença "importada" no continente, presença esta que já estava fortemente integrada às sociedades africanas.
O islã na África após 1800
Uma nova fase da islamização no continente iniciou-se no século XVIII, fenômeno que coincidiu com o auge da época escravista. Embora a servidão já existisse em várias sociedades da África Ocidental, a captura de seres humanos acelerou, a ponto de surgirem, no litoral do Golfo da Guiné, novos "Estados", como o Daomé (atual Benin) e Ashanti (atual Gana), como resposta à crescente procura por escravos que eram enviados, em sua maioria, para servir como mão-de-obra nas plantations da América tropical.
As armas de fogo que os mercadores de escravos ganhavam em troca dos seres humanos apresados facilitavam novas capturas que contribuíram para dizimar populações inteiras. Ao mesmo tempo, esse perverso processo transformou os grupos caçadores e mercadores em uma nova elite. Parte dos escravos vendidos eram muçulmanos e foi através deles que surgiram os primeiros núcleos islâmicos nas Américas. Na África Oriental, os escravos capturados eram, em sua maioria, “direcionados” para o Oriente Médio.
No século XIX, o impacto colonial mudou profundamente o quadro existente até então. Colonialistas europeus - franceses e britânicos, além de belgas, italianos e portugueses – criaram e consolidaram impérios concorrentes que puseram fim aos "Estados" islâmicos independentes. Os ingleses, que até o século anterior haviam sido os principais organizadores do tráfico negreiro, passaram a impor o seu fim e, onde foi possível, aboliram a escravidão. A diminuição do comércio de escravos trouxe conseqüências negativas para as elites escravistas muçulmanas, desestruturando as estruturas estatais existentes.
A Grã Bretanha concentrou suas energias colonizadoras no projeto geopolítico de manter um domínio territorial contínuo, "do Cairo (Egito) até a cidade do Cabo (África do Sul)", eliminando eventuais "Estados" muçulmanos que estavam no caminho. Por outro lado, em algumas áreas da África Oriental, os britânicos promoveram a vinda de trabalhadores rurais muçulmanos originários das Índias britânicas para regiões das atuais Uganda e África do Sul.
A evolução do colonialismo nas regiões da África muçulmana, gerou uma situação paradoxal: ao mesmo tempo em que os muçulmanos perdiam poder político, o islamismo teve um crescimento sem precedentes. Tribos inteiras se converteram. Isso ocorreu no contexto das rápidas transformações socioeconômicas engendradas pela colonização.
A urbanização e o enfraquecimento das tradições familiares e sociais, bases fundamentais das culturas africanas, geraram um ambiente conturbado que beneficiou o islã, religião que combina o universalismo de sua mensagem com uma ideologia de clara oposição ao Ocidente imperialista. Aliás, é essa combinação que explica, em grande medida, a condição do islamismo ser, na atualidade, a religião com o maior ritmo de crescimento em todo o mundo.
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