Português, perguntado por isabellaqr1533, 1 ano atrás

Minha querida madrinha. — Foi ontem, por noite morta, no comboio, ao chegar a Lisboa (vindo do Norte e do Porto), que de repente me acudiu, à memória estremunhada, o juramento que lhe fiz no sábado de Páscoa em Paris, com as mãos piamente estendidas sobre a sua maravilhosa edição dosDeveres de Cícero.Juramento bem estouvado, este, de lhe mandar todas as semanas, pelo correio, Portugal em “descrições, notas, reflexões e panoramas”, como se lê no subtítulo daViagem à Suíçado seu amigo o Barão de Fernay, comendador de Carlos III e membro da Academia de Tolosa. Pois com tanta fidelidade cumpro eu os meus juramentos (quando feitos sobre a Moral de Cícero, e para regalo de quem reina na minha vontade) que, apenas o recordei, abri logo escancaradamente ambos os olhos para recolher “descrições, notas, reflexões e panoramas” desta terra que é minha e queestá a la disposición de usted...Chegáramos a uma estação que chamam de Sacavém — e tudo o que os meus olhos arregalados viram do meu país, através dos vidros húmidos do vagão, foi uma densa treva, donde mortiçamente surgiam aqui e além luzinhas remotas e vagas. Eram lanternas de faluas, dormindo no rio: e simbolizavam, dum modo bem humilhante, essas escassas e desmaiadas parcelas de verdade positiva que ao homem é dado descobrir, no universal mistério do Ser. De sorte que tornei a cerrar resignadamente os olhos — até que, à portinhola, um homem de boné de galão, com o casaco encharcado de água, reclamou o meu bilhete, dizendoVossa Excelência! Em Portugal, boa madrinha, todos somos nobres, todos fazemos parte do Estado, e todos nos tratamos porExcelência. QUEIRÓS, E. de.Obras completas. Porto: Artes gráficas. 1966. v. II. p. 1059-1060. O fragmento, contextualizado na obra, permite afirmar: (01) O texto em estudo permite que se perceba a surpresa de Fradique diante da precariedade das condições lusitanas de vida. (02) A descrição detalhada do que vê Fradique em Portugal, prometida e enviada por ele à Madame Jouarre, coaduna-se com o estilo narrativo dominante na literatura da época. (04) Os termos em negrito, em “tudo o que os meus olhos arregalados viram do meu país, através dos vidros húmidos do vagão, foi uma densa treva, donde mortiçamente surgiam aqui e além luzinhas remotas e vagas.”, conotam o fascínio do enunciador pela simplicidade da terra natal. (08) A frase “Em Portugal, boa madrinha, todos somos nobres, todos fazemos parte do Estado, e todos nos tratamos porExcelênciarevela a ironia do enunciador ao retratar as interrelações sociais portuguesas. (16) As referências à obra de Cícero e ao Barão de Fernay explicitam o estilo literário típico do Naturalismo. (32) A estrutura textual adotada por Eça de Queirós afigura-se como um tipo inovador de narrativa.

Soluções para a tarefa

Respondido por waltercaminha
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Olá, tudo bem? Vou te ajudar nessa questão:

Precisamos analisar cada afirmativa para depois somar os pontos das verdadeiras:

(01) Verdadeira. Podemos perceber que Fradique fica surpreso com a precariedade que encontra.

(02) Verdadeira. A narrativa adequa-se ao Realismo do final do século XIX.

(04) Falsa. Os termos em negrito conotam o estranhamento vivido pelo enunciador.

(08) Verdadeira. O enunciador é irônico ao dizer que todos são nobres devido ao uso do pronome de tratamento mencionado.

(16) Falsa. O estilo literário do texto é o Realismo.

(32) Falsa. A estrutura adotada é bem comum, mesmo à época em que o autor escreveu o texto.

Logo, a resposta correta é 01 + 02+ 08 = 11.
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