“Minha avó não é menor que Angela Davis. Ela também pavimentou a minha trajetória”
Professora da UFBA, Ana Flauzina lança 'Além do Espelho', documentário que estabelece uma ponte entre os movimentos negros nos EUA e no Brasil
"Resistência é aquilo que, como mulheres, como negros vivenciamos. Minha avó é uma grande resistente. Ela não é menor que o Martin Luther King ou que a Angela Davis. Ela também pavimentou a minha trajetória", enuncia firme Ana Flauzina para explicar os caminhos que guiam sua vida como acadêmica e como documentarista, entre a resistência e o debate na militância do movimento negro. "É por isso que estamos aqui porque as pessoas resistiram e resistem aos sistemas de opressão. A militância é a resistência politizada, é a rebeldia", seguiu a professora do Departamento de Educação da UFBA e doutora em direito pela American University.
Na entrevista ocorrida na terça-feira, e disponível na íntegra no vídeo acima, Flauzina explicou sua motivação para conciliar a sala de aula e os artigos acadêmicos com a experiência de fazer uma média: queria promover diálogo e difusão de ideias - "Um cara como Haile Gerima, que é um dos mais importantes cineastas independentes da história, tem uma obra quase desconhecida por aqui" - e, ao mesmo tempo, ter um produto que pudesse ser levado às salas de aulas, aos centros comunitários, às prisões. "A plataforma do movimento negro salva vidas. Salvou a minha e a de várias pessoas que eu acompanho. Eu digo que é um encontro empoderado com esse espelho. É um poder ser, de fato, apesar das entranhas do racismo", disse.
Flauzina diz: "Eu vejo muita angústia branca em torno disso e eu acho que essas pessoas têm que buscar suas respostas em vez de onerar as pessoas negras com essa pergunta em busca de fórmulas mágicas (sobre a participação dos brancos). Há um lugar importante e reservado para todos e todas na luta contra o racismo", diz ela. "A covardia de gênero e raça é essa. Podemos ser pessoas de muita boa vontade, mas seguir reproduzindo esse tipo de coisa (de preconceito)". "Você tem um filho amanhã, coloca numa bela escola e não tem uma professora negra e isso passa despercebido para você. O que é isso para você? Independentemente de ter um filho branco, ir lá e falar: 'Não dá. Não quero que as percepções do meu filho sobre carinho sejam exclusivamente acopladas a um corpo branco'. É dizer 'eu me importo com isso', 'eu me mobilizo com isso'. Assim todos e todas nós vamos politizando esses privilégios."
Especialista em criminologia e autora de Corpo negro caído no Chão - O sistema penal e o projeto genocida do Estado brasileiro, a professora da UFBA também criticou na conversa com o EL PAÍS o "espetáculo" pouco efetivo da intervenção federal do Rio um dia antes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes em uma emboscada no centro do Rio. Para ela, a crise atual acaba por escancarar o "genocídio negro": "Enquanto a gente não desmobilizar essa dinâmica do racismo não desmantelaremos a dinâmica da punição". "Quando a gente pensa em tortura, pensa em ditadura militar. Mas isso é obsceno no contexto brasileiro. Qual o grande laboratório da tortura? A escravidão. Por que a gente só registra a tortura aí? Porque neste momento histórico outros corpos adentraram esses porões e passaram a ser torturados. Quando esses corpos saem de cena, a tortura volta a fazer parte de uma narrativa natural da criminalização e da punição." Disponível em: . Acesso em: 07 out. 2018.
A partir da entrevista apresentada, é correto afirmar que:
Escolha uma:
a.
Ao afirmar “Quando a gente pensa em tortura, pensa em ditadura militar” a professora Flauzina repete uma visão esquerdista da história que inventou a existência de tortura por parte da repressão no Regime militar.
b.
Ao afirmar que sua vó não “é menor que o Martin Luther King ou que a Angela Davis”, Flauzina busca diminuir a importância dessas lideranças e seu discurso pacifista.
c.
Ao afirmar “É por isso que estamos aqui porque as pessoas resistiram e resistem aos sistemas de opressão. A militância é a resistência politizada, é a rebeldia” a autora propõe uma perspectiva ampla de militância política.
d.
Ao longo da entrevista fica claro que, para a autora, o racismo no Brasil jamais será superado por conta de nossa herança escravocrata.
e.
Quando Flauzina afirma “Eu vejo muita angústia branca em torno disso”, ela se refere ao medo que a elite branca possui de perder determinados privilégios.
Soluções para a tarefa
Respondido por
88
Resposta correta ---->>>Ao afirmar “É por isso que estamos aqui porque as pessoas resistiram e resistem aos sistemas de opressão. A militância é a resistência politizada, é a rebeldia” a autora propõe uma perspectiva ampla de militância política
Respondido por
31
Está correta a letra c.
Isso porque ao afirmar que a vida atual de negros e pardos no mundo e no Brasil pode ser possível é apenas porque a militância e as variadas formas de resistência existem, que lutam contra a repressão e o racismo estrutural de forma firme e forte.
Essa frase nos permite ainda compreender que as formas de militância política existentes são variadas, podendo se manifestar em diversos meios e em variadas manifestações.
Perguntas interessantes