Me ajudemmmmmm!!!!!!!!!! Porfavorrr!!!!
Encontraram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
-- Bom dia...
-- Bom dia.
-- A senhora é do 610.
-- E o senhor do 612.
-- É.
-- Eu ainda não o conhecia pessoalmente...
-- Pois é.
-- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
-- O meu o quê?
-- O seu lixo.
-- Ah...
-- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
-- Na verdade, sou só eu.
-- Mmmmmmmm. Notei também que o senhor usa muita comida em lata.
-- É que tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
-- Entendo.
-- A senhora também...
-- Me chame de você.
-- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignos, coisas assim...
-- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
-- A senhora... você não tem família?
-- Tenho, mas não aqui.
-- No Espírito Santo.
-- Como é que você sabe?
-- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
-- É. Mamãe escreve toda semana.
-- Ela é professora?
-- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
-- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
-- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo...
-- Pois é...
-- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
-- É.
-- Más notícias?
-- Meu pai. Morreu.
-- Sinto muito.
-- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
-- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
-- Como é que você sabe?
-- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
-- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
-- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
-- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
-- Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou.
-- Você brigou com o namorado, certo?
-- Isso você também descobriu no lixo?
-- Primeiro, o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel...
-- É, chorei bastante, mas já passou.
-- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
-- É que estou com um pouco de coriza.
-- Ah.
-- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
-- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
-- Namorada?
-- Não.
-- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no teu lixo. Até bonitinha.
-- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
-- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
-- Você já está analisando o meu lixo!
-- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
-- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
-- Não! Você viu meus poemas?
-- Vi e gostei muito.
-- Mas são muito ruins!
-- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
-- Se eu soubesse que você ia ler...
-- Só não fiquei com eles, porque, afinal, estaria roubando. Se bem que não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
-- Acho que não. Lixo é domínio público.
-- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
-- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
-- Ontem, no seu lixo...
-- O quê?
-- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
-- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
-- Eu adoro camarão.
-- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
-- Jantar juntos?
-- É.
-- Não quero dar trabalho.
-- Trabalho nenhum.
-- Vai sujar a sua cozinha.
-- Nada. Num instante se limpa e põe os restos fora.
-- No seu lixo ou no meu?
1- Em que pessoa é feita a narração? Comprove com uma passagem do próprio texto:
2- Observando como o autor estruturou o texto qual é o papel do narrador:
3- Além de um conhecimento mútuo, o que mais o lixo proporcionou aos dois?
4- O lixo, no texto, pode ser visto como uma metáfora. Justifique tal afirmativa:
5- "... o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?". Reveja a situação em que a pergunta foi feita no texto e dê a sua opinião sincera:
6- "Você já está analisando o meu lixo!", disse o rapaz em determinado momento. Pouco depois, ele faz uma "análise" do lixo da moça. O que ele analisa? Você concorda com ele?
7- Sinceramente, você acha que há alguma possibilidade de a situação narrada no texto ocorrer na vida real? Por quê?
8- Podemos afirmar que o texto é uma crônica? Por quê?
9- Podemos afirmar que há ironia na passagem "Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo"? Explique
10- Existe no texto algum desvio gramatical? Se sim, copie e faça a devida adequação:
11- Como você se sentiria com alguém analisando o seu lixo? Comente:
12- Encontre uma relação entre o sentido da palavra MULETA (dicionarizado) e o empregado na mesma palavra no texto (conotativo):
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1- Responda qual trecho corresponde ao Argumento correto: Argumento de Autoridade; Argumento por Causa e Consequência; Argumento de Prova Concreta e
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