Português, perguntado por bibikha2005p7o0ej, 10 meses atrás

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Texto I

O grande desastre aéreo de ontem Para Portinari Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão tranquila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de Deus. E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.

LIMA, Jorge de. A túnica inconsútil, 1974 [1938].

Texto II

A queda do Fokker da TAM Há sinais de que os passageiros do Fokker se prepararam para um pouso de emergência que nunca houve. Não ficou nenhuma testemunha para descrever o que aconteceu com os noventa passageiros do voo 402 da TAM durante os 25 segundos em que eles viajaram da pista de Congonhas, em São Paulo, para uma explosão no solo, 2 quilômetros adiante. Mas há elementos para afirmar com certa dose de certeza que os ocupantes do Fokker 100, todos mortos no desastre de quinta-feira, estavam se preparando para o pior. Entre os corpos levados ao Instituto Médico Legal de São Paulo, a maior parte mantinha uma posição parecida. Os corpos estavam inclinados para a frente, com os braços esticados e as pernas cruzadas. Suspeita-se que os passageiros possam ter sido orientados a se posicionar para um pouso de emergência. É aquele momento em que cada um dobra o tronco sobre os joelhos, envolve a cabeça com as mãos, fecha os olhos e se prepara para o pior. Como os corpos foram carbonizados, eles teriam fixado a posição inclinada, característica da emergência, disseram os médicos do IML.

Veja, 6 nov. 1996.

(Unesp) Dependendo do gênero em que são escritos, os textos podem apresentar diferenças relevantes. Comparando o texto da Veja e o fragmento de Jorge de Lima, indique as marcas linguísticas presentes em cada texto e o que os diferencia, quanto ao gênero (literário-ficcional/jornalístico-informativo).

Soluções para a tarefa

Respondido por isabellytlimma
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Resposta:

O texto de Jorge de Lima se propõe como poema (em

prosa) lírico já na imposição do eu contida em sua

primeira palavra: “Vejo...”. Juntamente com a

instauração do eu lírico, instala-se um espaço típico da

ficção poética, neste caso, admite o inverossímil e

mesmo o fantástico e surreal. Outras marcas linguísticas

características da estruturação literária do texto são as

anáforas (“Vejo... Vejo...”) e outros paralelismos

sintáticos, a abundância de imagens de elaboração

complexa e forte expressividade etc. O texto de Veja, ao

contrário, ostenta claramente seu propósito referencial,

não-expressivo: não admite qualquer subjetividade

(nenhum verbo ou pronome na primeira pessoa) e

procura restringir-se, rigorosamente, ao relato objetivo

e impessoal dos fatos.

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