Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. [...] Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. [...] Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. [...] Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. [...] Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Na passagem transcrita, a apresentação das personagens por meio de uma voz em primeira pessoa, que se sustenta pelo fio de sua memória, revela a construção de uma narrativa com A. adjetivação excessiva da cena. B. caráter metalinguístico acentuado. C. expressividade poética forte. D. sequência temporal linear rígida. E. sobriedade na escolha do léxico.
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Resposta:
letra D
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