Mas dentro de mim havia uma agonia de tal natureza, um tão estranho sentimento de infelicidade que era exatamente como se eu chorasse em altas vozes. E, para vencer-me, arranquei-lhe das mãos a flauta em que ele viera soprando vagamente, e mandei-o reunir todos os que iam conosco, a fim de que me ouvissem tocar a mim.
[...]
Quando me anunciaram que estavam todos reunidos, comecei a tocar e a dançar. Ficaram muito espantados, e, não se contendo, disseram que eu era o músico mais engraçado que já tinham visto. E justamente nesse instante eu estava tocando a mais trágica das canções que já se inventaram. Mas era de um povo distante... E os sons eram incompreensíveis como as palavras de outras línguas.
“Viva!”, gritou-me um deles. “Por que não me mostrastes essas habilidades logo que partimos? Teríamos gozado mais! ...” Como cumpria responder alguma coisa, acontece-me falar. “É que no começo andava meio triste...” “E agora?” perguntaram-me. “Oh!... Agora estou muito mudado...” Então ouvi o mais velho dizer. “É sempre assim, nestas longas viagens. Parte-se com melancolia. Mas por fim a gente se alegra tanto que até parece loucura...” E deram-me um gole de vinho, com travo amargo e viscoso de sangue. Provavelmente não seria do vinho, mas da minha boca... Tinha tocado tanto!
E toquei e dancei todas as minhas cantigas e danças. Já não entendia o que tocava nem onde punha os pés. Não obstante, não podia parar. Bailava desarticulado, delirante, incansável... De vez em quando, alguém gritava, aplaudindo. Era sempre a passagem mais dolorosa...
[...]
MEIRELES, Cecília. “Epopeia”. Episódio humano. Rio de Janeiro: Desiderata: Batel, 2007. p.
Vocabulário - Travo: Sabor adstringente de qualquer comida ou bebida; amargor.
1.1 - Nesse excerto da crônica “Epopeia”, observa-se o emprego do discurso indireto em:
A) É que no começo andava meio triste...
B) [...] disseram que eu era o músico mais engraçado que já tinham visto.
C) E toquei e dancei todas as minhas cantigas e danças.
D) Mas por fim a gente se alegra tanto que até parece loucura...
E) [...] eu estava tocando a mais trágica das canções que já se inventaram.
1.2 - No final do segundo parágrafo, no trecho “E deram-me um gole de vinho, com travo amargo e viscoso de sangue. Provavelmente não seria do vinho, mas da minha boca... Tinha tocado tanto!”, o personagem julga que
A) o vinho dado a ele certamente tinha gosto de sangue.
B) o gole de vinho tomado tinha um travo amargo devido a sua tristeza.
C) o gosto de sangue era provocado por suas loucuras e por sua fértil imaginação.
D) o fato de ter tocado tanto era a causa de ele não ter gostado muito daquele vinho.
E) o ferimento na boca, provocado pela flauta, causava o gosto de sangue.
1.3 - No trecho “Ficaram muito espantados, e, não se contendo, disseram que eu era o músico mais engraçado que já tinham visto. E justamente nesse instante eu estava tocando a mais trágica das canções que já se inventaram.”, o narrador personagem descreve as reações das pessoas que ouviam sua música.
Considerando o contexto da narrativa, o flautista julgou que o público tinha achado que as melodias trágicas eram engraçadas porque
A) a música era tão alegre que deixava loucos todos os ouvintes.
B) pertenciam a uma nacionalidade cuja cultura era diferente da dele.
C) estava detestando aquele espetáculo e achando tudo pouco divertido.
D) o tocador de flauta esquecia a música e por isso bailava desajeitadamente.
E) percebia o sentimento de infelicidade do músico que chorava em altas vozes.
Se alguém puder responder
Soluções para a tarefa
Respondido por
1
Resposta:
1D, 2C, 3B
Explicação:
as respostas estão explicitadas no text
MarcelaFofha:
obrigada Luiz, eu tô com uns problemas e então mandei a pergunta aqui mas mesmo assim obrigada <3
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