Marie Kondo é uma autora japonesa famosíssima por seu método para alcançar a felicidade mediante
a ordem doméstica. Depois de vender milhões de livros, agora triunfa na Netflix com um reality intitulado
Marie Kondo: a magia da arrumação […]. O sucesso do programa é inexplicável, porque é tão chato
como parece. […]
O triunfo de uma pessoa tão insípida e tão pouco televisiva como Marie Kondo se deve ao fato de que
sua religião tem muitos fiéis. A ideia sobre a qual se equilibra é uma verdade aceita universalmente: gente
organizada é moralmente superior. A recriminação não tem a ver com higiene nem com estética, e sim
com a virtude e o vício. Um bagunceiro é uma pessoa abjeta.
[…] Os desejos de limpeza e esmero sempre escondem um nojo em relação ao mundo, à massa,
ao incontrolável. Nos mais inocentes dos casos, são ilusões de controle de uma vida que, no fundo,
sabe-se intratável, mas que se suporta enquanto os lápis estiverem no seu porta-lápis, e os livros, nas
prateleiras. Os bagunceiros somos um memento mori, um aviso perene de que as minúcias não vão
liberar ninguém de catástrofe alguma […]. Por isso somos odiosos. Por isso tem que vir a Marie Kondo nos matar de tédio.
MOLINO, Sergio Del. Marie Kondo quer matar os bagunceiros de tédio. El País, 9 jan. 2019. Disponível em: . Acesso em: 5 fev. 2019.
55. No texto anterior, ao elaborar uma crítica a um programa recentemente lançado por uma plataforma de streaming, o autor não se limita a analisar o carisma da protagonista e expõe seu olhar pessoal a respeito de como as pessoas consideradas bagunceiras são lidas na sociedade. Essa expressividade do autor pode ser percebida em passagens como
a) “Um bagunceiro é uma pessoa abjeta”, em que ele se utiliza de um conceito universal para desconstruir a tese desenvolvida no programa analisado.
b) “Os bagunceiros somos memento mori”, em que, por meio de um conceito filosófico, ele denuncia a tentativa das pessoas que rompem com a norma da arrumação em negar a imortalidade humana.
c) “Um aviso perene de que as minúcias não vão liberar ninguém de catástrofe alguma”, em que ele se vale de paradoxos e generalizações para esconder seu olhar determinista.
d) “Por isso tem que vir a Marie Kondo nos matar de tédio”, em que ele lança mão da ironia para evidenciar a eficácia do método de arrumação da protagonista da série.
e) “Enquanto os lápis estiverem no seu porta-lápis, e os livros, nas prateleiras”, em que ele explora uma metonímia para representar a aparente noção de ordem das coisas.
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