Mais que um espaço no calendário para decidir sobre aprovação, retenção ou até a expulsão de alunos, o conselho de classe deve ser um instrumento para avaliar o processo educativo e a própria escola. Além de envolver a comunidade escolar no processo, o gestor deve evitar que os alunos com mais dificuldades sejam estigmatizados nessas reuniões e que questões pessoais, como comportamento, influenciem na avaliação da aprendizagem. Para Sandra Záquia, docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, as informações de como a criança ou o adolescente avançam devem ser utilizadas para reflexão crítica do trabalho, e não apenas para a definição de um conceito ou nota. "O conselho de classe só tem sentido se possibilitar a proposição de rumos de ação. Para isso, é preciso partir da análise do desempenho dos estudantes, o que deve ser feito conjunta e cooperativamente por quem integra a organização escolar: professores, funcionários, alunos e seus responsáveis." Segundo ela, o objetivo das reuniões é estabelecer as necessidades, as prioridades e as propostas de ações capazes de garantir o crescimento de cada indivíduo. "Para além de buscar um consenso, é mais produtivo ter um espaço para explicitar, trabalhar e aprofundar as diferenças, que são expressões de projetos educacionais e sociais em realização na escola." A professora Carmen Lúcia Guimarães de Mattos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), sinaliza, em seus estudos, um alerta às escolas que encaram os conselhos como fóruns privilegiados para a troca de informações sobre os estudantes. "Raras vezes, há uma verdadeira avaliação do processo de aprendizagem, do desempenho do aluno na realização de tarefas, nos testes de conteúdo e em seu crescimento intelectual em relação ao grupo. Em geral, o bom rendimento obtido por alguém não é evocado nesses encontros. Os aspectos positivos são desconsiderados e substituídos por comentários desabonadores, que chegam a ferir a ética profissional", ressalta.
Modelos falidos
O conselho de classe ainda é um instrumento de avaliação bastante perverso dentro de muitas instituições de ensino. Sandra explica que o aluno não costuma ter chance de se posicionar, e os pais só são incluídos para escutar reclamações sobre seus filhos. Também não é raro que diretor e vice só apareçam para desempatar uma votação. "Isso revela que a avaliação é tratada como ação de exclusiva responsabilidade do professor", aponta. Nessas reuniões são abordados o aproveitamento (nota), disciplina, interesse e esforço, mas questões pessoais acabam interferindo nos julgamentos. "Aquele que se adapta a solicitações, exigências e normas, ou seja, que tem bom comportamento, possui mais possibilidades de ganhar os pontos necessários", revela Sandra. Também são veiculadas informações sobre o caráter pessoal e seu desempenho anterior. "Com isso, o conselho pode ser um espaço legitimador da exclusão dos alunos." Para Carmen, que realizou uma pesquisa em duas escolas de ensino fundamental da rede pública fluminense, as decisões do conselho podem favorecer o fracasso e a exclusão daqueles que apresentam dificuldades educacionais. Ela explica que os professores tendem a considerar os alunos com mais dificuldade como portadores de um bloqueio cognitivo que os impede de aprender. Nas reuniões do conselho, essas opiniões, muitas vezes preconceituosas, são validadas pelos outros professores e, assim, reforçadas. "A maneira adotada para se eximir da culpa - a atribuição apressada do fraco desempenho escolar a causas psicológicas - assume características de uma profecia autorrealizável. As avaliações não se baseiam em critérios acadêmicos, mas em apreciações subjetivas, a partir das quais os alunos são julgados", conta Carmen. Para não se responsabilizar pelas dificuldades dessas crianças, escola e professores também costumam atribuí-las a problemas familiares, pobreza ou até ao baixo desempenho escolar dos irmãos. [...] (Revista Escola Pública, 2015)
Para resolver este desafio, você deverá fazer uma análise crítica (máximo 20 linhas) sobre a afirmação expressa pela pedagoga Carmen Lúcia Guimarães de Mattos no trecho lido. Para tanto, você deverá, no decorrer de sua resposta:
a) Posicionar-se a favor ou contra a importância do conselho de classe nas escolas.
b) Considerar se o conselho de classe é ou não um instrumento de avaliação perverso dentro de muitas instituições de ensino.
c) Apresentar uma proposta de conselho de classe possível de ser empregado nas escolas.
Soluções para a tarefa
Resposta:
Explicação:
Padrão de resposta esperado
Conforme o posicionamento da educadora Carmem Lúcia Guimarães de Mattos, muitas escolas utilizam do conselho para "falar" do aluno, muitas vezes, negativamente. Contudo, acredito que há pontos a serem considerados, tais como a nova estrutura familiar, a falta de limites impostas pelos pais, a falta de amparo pedagógico aos professores e alunos e, por fim, a falta de uma participação mais efetiva dos pais nas escolas. O conselho, quando levado com seriedade, analisa casos importantes sobre os alunos e, coletivamente, busca soluções colegiadas. Outro fator importante tange às escolas do ensino público que limita a ação dos profissionais da educação em suas ações em sala de aula. Há, inegavelmente, uma crise na educação e em tantos outros setores da sociedade. Contudo, o professor é tão vítima desse processo quanto os alunos e os pais. Infelizmente, há muito que se fazer, porém, a falta de investimentos, a falta de apoio e a troca constante de políticas educacionais, que são substituídas por outras antes mesmo de se ter uma avaliação plena dos resultados, fazem com que o problema do ensino seja de caráter político, e não de interesse social. Para que um conselho de classe seja realmente justo, representantes dos alunos, pais e da própria secretaria da educação do município devem participar desses encontros. Cada segmento deve expor suas posições sobre um tema ou outro e, colegiadamente, encontrar respostas para os problemas postos.