́Macunaima
Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco loiro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém, a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:
– Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifava toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou:
– Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!” (Andrade, Mário de. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter)
Questões ( valor 2,0 cada)
1 -Alegoria é a exposição de um pensamento sob forma figurada. O texto acima é uma representação alegórica de quê?
2 – Que reação de Macunaíma não condiz com o que se espera de um herói, prenunciando o anti-herói?
3 – Os modernistas da primeira fase procuravam romper com a linguagem formal e incorporar a fala coloquial (uso do vocabulário e sintaxe bem próximos da linguagem cotidiana). Muitas vezes utilizavam registros populares da língua ou não utilizavam pontuação, contrariando a gramática normativa. Retire do texto passagens que exemplifiquem essa afirmação.
4 – Mário de Andrade valoriza a lógica e a razão nesse texto? Por quê?
5 – Macunaíma é branco, Maanape é negro e Jiguê é índio. No entanto, os três continuam irmãos e unidos. Qual lição se pode tirar disso?
Soluções para a tarefa
Resposta:
1 -Alegoria é a exposição de um pensamento sob forma figurada. O texto acima é uma representação alegórica de quê?
R: É uma representação alegoria das mudanças étnicas, pois ao longo do texto Macunaíma retrata as características físicas dos personagens ( cor dos olhos, cabelos e tons de pele diversos existentes). Mostrando através dessas características que diferencia as pessoas umas das outras desde o início da diferenciação entre os seres humanos.
2 – Que reação de Macunaíma não condiz com o que se espera de um herói, prenunciando o anti-herói?
R: Ele é chamado de anti -heroi porque ele é tudo que um herói NÃO é . Mário de Andrade coloca no livro que Macunaíma é um herói sem nenhum caráter. E ele também pode ser considerado um anti- herói por fazer tudo o que um herói não pode fazer, ele ama e maltrata as mulheres, não trabalha, briga e xinga as pessoas, faz trapaças, prega peças e é preguiçoso entretanto possui alguns dons mágicos e é adorado por todo mundo.
3 – Os modernistas da primeira fase procuravam romper com a linguagem formal e incorporar a fala coloquial (uso do vocabulário e sintaxe bem próximos da linguagem cotidiana). Muitas vezes utilizavam registros populares da língua ou não utilizavam pontuação, contrariando a gramática normativa. Retire do texto passagens que exemplifiquem essa afirmação.
R: “[...] Ele dava risadas chatas, se espremendo de cócegas e gostando muito. Quando elas paravam pedia mais estorcendo já de antegozo. Vei pôs reparo na senvergonhice do herói, teve raiva. [...]” / “[…] O corpo dele relumeava de ouro cinzando nos cristaizinhos do sal e por causa do cheiro da maresia, por causa do remo pachorrento de Vei, e com a barriga assim mexemexendo com cosquinhas de mulher. [...]”.
4 – Mário de Andrade valoriza a lógica e a razão nesse texto? Por quê?
R: Não, porque Macunaíma é uma obra fabulosa e os eventos nela contidos não seguem convenções realistas. Por ser a obra também de caráter nacionalista, Mário de Andrade buscou salvar os brasileiros por meio de lendas e folclore de raízes latino-americanas (principalmente indígenas). Isso prova que, ao escrever esta obra, além de deixar de lado a ordem lógica dos fatos, ele não valorizava a racionalidade.