(Mackenzie 2017 - adaptado) Redija uma dissertação desenvolvendo um tema comum aos textos abaixo. O texto deve ter título e estabelecer relação entre o que é apresentado nos textos da coletânea.Texto I: "O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos e se manifesta como desejo de con-
fiar nas coisas e nas pessoas, isto é, de acreditar que as coisas são exatamente tais como as percebemos e o
que as pessoas nos dizem é digno de confiança e crédito. Ao mesmo tempo, nossa vida cotidiana é feita de
pequenas e grandes decepções e, por isso, desde cedo, vemos as crianças perguntarem aos adultos se tal ou
qual coisa ‘é de verdade ou é de mentira’ ". Marilena Chauí, filósofa.
Texto II: "Num tempo de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário". George Orwell, escritor.
Texto III: "Ao contrário do que geralmente se crê, por muito que se tente convencer-nos do contrário, as ver-
dades únicas não existem: as verdades são múltiplas, só a mentira é global". José Saramago, escritor.
Soluções para a tarefa
A exemplo de provas anteriores, a Banca Examinadora solicitou que o candidato redigisse uma dissertação, “desenvolvendo um tema comum” a três textos: o primeiro, da filósofa Marilena Chauí, versava sobre o “desejo da verdade” que, a despeito das inevitáveis decepções cotidianas, revelaria a disposição de “confiar nas coisas e nas pessoas”. Já no segundo texto, o escritor George Orwell descrevia como revolucionário o “ato de dizer a verdade” em meio a um “tempo de engano universal”. José Saramago encerrou a coletânea, afirmando não haver “verdades únicas”, e sim verdades múltiplas. Após ter identificado o tema comum aos textos apresentados, o candidato deveria chamar a atenção para a existência de um embate atávico entre a verdade e sua antagonista, a mentira, que caracterizaria a trajetória humana. Entre uma e outra, o surgimento de versões, meias-verdades e até pós-verdades estaria dificultando o reconhecimento daquilo que de fato corresponderia à realidade. Para ilustrar seus pontos de vista, o vestibulando poderia destacar as eleições norte-americanas ocorridas em 2016, as quais teriam sido marcadas por uma sucessão de notícias falsas que teriam confundido um eleitorado visivelmente polarizado. Caberia ainda mencionar outro episódio, ocorrido no mesmo ano, em que a verdade teria sido derrotada: o referendo por meio do qual a população do Reino Unido optou por desligar-se da União Europeia. Seria apropriado, ainda, registrar o papel das redes sociais que, disputando com a imprensa tradicional, estariam especializando-se na construção de narrativas, algumas das quais conhecidas como “fatos alternativos”, representados por um variado cardápio de versões, cabendo aos cidadãos consumir as mais convenientes. Embora o fenômeno descrito fosse inquestionável, o candidato poderia lamentar, se desejasse, o desaparecimento de um valor tão importante, em nome de convicções baseadas apenas em subjetividades. Resistir a essa tendência significaria, de fato, “um ato revolucionário”.