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Uma tragédia pode virar um musical? Da pergunta em forma de brincadeira entre o diretor Marco André Nunes e o dramaturgo Pedro Kosovski surgiu o jogo de palavras Edypop. A montagem, que retrata a trajetória de um mito milenar, está na programação do Palco Giratório neste sábado, às 21h, e domingo, às 18h, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n). A peça, da Aquela Cia de Teatro, coloca em cena Leticia Spiller, no papel de Jocasta, e João Velho, como Édipo.
"Freud popularizou Édipo. As pessoas nunca leram a tragédia de Sófocles, mas sabem do que se trata. Então, pensamos: se essa é a tragédia mais pop, quem seria o ídolo pop mais edipiano? Chegamos a John Lennon", conta o diretor Marco André Nunes. O percurso de Édipo até o falecido Beatle é repleto de referências, sendo que o espetáculo se apropria menos de sua referência clássica - a tragédia de Sófocles - e mais de suas derivações contemporâneas.
Na peça, o pai de Édipo e rei de Tebas, Laio, passa por uma crise com a possível invasão da cidade. Ele não sabe como reagir, pois fica totalmente assombrado com a ideia de que o filho possa ocupar seu lugar - é quando o psicanalista Sigmund Freud é chamado para resolver o problema. "Traçamos um paralelo com as manifestações de 2013, nas quais o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, também não soube responder", relata Nunes, lembrando que, no musical, os mascarados conhecidos como Black Blocs são interpretados por artistas locais selecionados em uma oficina ministrada nesta sexta-feira na Capital.
"Mostramos também Laio pensando em matar Édipo, fato este ignorado por Freud, que valoriza o incesto sobre o infanticídio", afirma o diretor, completando que a montagem também aborda o texto de Anti-édipo, de Gilles Deleuze e Félix Guattari. O livro, escrito durante a revolução de maio de 1968, na França, desmonta os conceitos propostos pela psicanálise e coloca outros no lugar.
A chegada de John Lennon na trama se dá a partir das canções da fase final da obra do ex-Beatle, como o álbum Plastic ono band e a letra mítica de Mother, que estão na montagem acompanhadas de uma trilha sonora original criada pelo diretor musical Felipe Storino.
Nunes explica que Lennon foi criado pela tia Mimi, irmã de Julia, sua mãe. Julia morreu de maneira trágica, atropelada, quando ele era ainda adolescente. O suposto desejo de Lennon de ter uma relação incestuosa com a mãe está descrito no livro John Lennon, a vida, de Philip Norman. "Ele fez a Terapia do Grito Primal, coordenada por Artur Janov, nos anos 1970. Isso fez com que ele reavaliasse sua relação familiar. Colocamos isto na peça."
Apesar de o tema ser uma tragédia, o diretor enfatiza que há muita comicidade no espetáculo. "São várias cenas com as quais qualquer pessoa irá se identificar. As situações da análise são levadas para um paroxismo", relata Nunes.
Edypop dá continuidade à pesquisa artística da Aquela Cia de Teatro, que se baseia na criação de uma dramaturgia própria e na ampliação do gênero musical. A peça estreou em 2014 em comemoração aos 10 anos da companhia e recebeu duas indicações no Prêmio Cesgranrio e três no Prêmio Questão de Crítica. Este, inclusive, é o segundo musical de Leticia Spiller com o grupo. O primeiro foi Outside, uma ópera rock ao som de músicas de David Bowie. O próximo trabalho da companhia deve ser um desdobramento de Edypop: trata-se da relação do rei Laio e Crisipo, que também irá virar um musical. "Esta história estaria na peça, mas achei tão rico que vamos criar uma peça inteira só para este tema. É a primeira menção de uma relação homossexual na mitologia e no ocidente", diz Nunes, completando: "gostamos de desafios. A dificuldade de transpor uma tragédia para um musical nos interessou, sempre buscamos caminhos não usuais