Lisboa, 14 de março de 1916.
Meu querido Sá-Carneiro:
Escrevo-lhe hoje por uma necessidade sentimental
– uma ânsia aflita de falar consigo. Como de aqui se
depreende, eu nada tenho a dizer-lhe. Só isto – que estou
hoje no fundo de uma depressão sem fundo. O absurdo da
frase falará por mim.
[...] Pode ser que se não deitar hoje esta carta no correio
amanhã, relendo-a, me demore a copiá-la à máquina, para
inserir frases e esgares dela no «Livro do Desassossego».
Mas isso nada roubará à sinceridade com que a escrevo,
nem à dolorosa inevitabilidade com que a sinto.
[...]
De que cor será sentir?
Milhares de abraços do seu, sempre muito seu
Fernando Pessoa.
PESSOA, F. Carta a Mário de Sá-Carneiro, 14 mar. 1915. In: SIMÕES,
J. G. Vida e Obra de Fernando Pessoa: História de uma Geração.
Amadora: Dom Quixote, 2017. [Fragmento]
EHCE
Ø996
Na carta, o poeta Fernando Pessoa escreve ao também
poeta Mário de Sá-Carneiro. Depreende-se que a motivação
para a escrita do texto é o(a)
A. sentimento de tristeza e solidão que faz o autor ansiar
por se comunicar com o amigo.
B. reflexão sobre a importância de escrever, reler o
conteúdo e transcrevê-lo para enviar.
C. informação sobre o livro que o remetente está
escrevendo simultaneamente à carta.
D. questionamento sobre o ato de sentir, cuja resposta
será esperada pelo remetente.
E. descrição objetiva das intenções e ocupações do
remetente para o dia seguinte.
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Resposta:
alternativa E
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