Português, perguntado por marcosvini123pbs, 6 meses atrás

Levanto cedo, faço a higiene pessoal, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento − mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lockout, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.
Está bem. Tomo meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:
– Não é ninguém, é o padeiro!
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou por uma outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém...
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação do jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estavam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi uma lição daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”.
E assoviava pelas escadas.

(Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960. Adaptado)

QUESTÃO - 01 Pela leitura do penúltimo parágrafo, pode-se concluir que a lição aprendida pelo cronista foi um exemplo de *

a) respeito, pois o padeiro entregava o pão procurando não acordar os fregueses que ainda estavam dormindo àquela hora.

b) cidadania, pois o padeiro, ao participar da greve, mostrou ao cronista que era um trabalhador consciente de seus direitos.

c) humildade, pois a atitude do padeiro de gritar “não é ninguém” opõe-se à vaidade do cronista por escrever para um jornal.

d) modéstia, pois o padeiro explica ao cronista que ambos, além de trabalharem à noite, exercem atividades importantes para a sociedade.

Soluções para a tarefa

Respondido por nevezanabeatriz
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Resposta:

a) respeito, pois o padeiro entregava o pão procurando não acordar os fregueses que ainda estavam dormindo àquela hora.

espero ter ajudado ❤️

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