Leia os três textos:
Texto 1
AUTO-RETRATO
Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.
Manuel Bandeira.
Texto 2
POEMA DE SETE FACES
Quando eu nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos. (....)
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo
mais vasto é o meu coração.
Carlos Drummond de Andrade.
Texto 3
QUANDO ELA PASSA
Quando eu me sento à janela
P’los vidros qu’a neve embaça
Vejo a doce imagem d’ela
Quando passa… passa.… passa…
N’esta escuridão tristonha
Duma travessa sombria
Quando aparece risonha
Brilha mais qu’a luz do dia.
Quando está noite ceifada
E contemplo imagem sua
Que rompe a treva fechada
Como um reflexo da lua,
Penso ver o seu semblante
Com funda melancolia
Qu’o lábio embriagante
Não conheceu a alegria
E vejo curvado à dor
Todo o seu primeiro encanto
Comunica-mo o palor
As faces, aos olhos pranto.
Todos os dias passava
Por aquela estreita rua
E o palor que m’aterrava
Cada vez mais s’acentua
Um dia já não passou
O outro também já não
A sua ausência cavou
Ferida no meu coração
Na manhã do outro dia
Com o olhar amortecido
Fúnebre cortejo via
E o coração dolorido
Lançou-me em pesar profundo
Lançou-me a mágoa seu véu:
Menos um ser n’este mundo
E mais um anjo no céu.
Depois o carro funério
Esse carro d’amargura
Entrou lá no cemitério
Eis ali a sepultura:
Epitáfio.
Cristãos! Aqui jaz no pó da sepultura
Uma jovem filha da melancolia
O seu viver foi repleto d’amargura
Seu rir foi pranto, dor sua alegria.
Quando eu me sento à janela
P’los vidros qu’a neve embaça
Julgo ver imagem dela
Que já não passa… não passa.
Atividade
Explique, em poucas palavras, por que os três textos são considerados subjetivos?
Soluções para a tarefa
Respondido por
1
Os textos são considerados subjetivos, pois cada pessoa pode ter um entendimento deles...
Perguntas interessantes