Leia os textos abaixo.
Texto 1
Olhares e olhares
Ela lançou um olhar. Do outro lado da sala. Ela lançou um daqueles olhares. Tenho certeza. Aqueles que duram dois segundos, aqueles dois segundos que parecem dois meses, de tanto que acontece ali, dentro desses olhares. Eu costumo colocar meus olhares no chão, ou nos olhos de quem está falando. Mas de olhares assim não consigo escapar. Ela lançou um desses olhares tenho certeza.
Na adolescência tocava em uma banda. Uma noite abrimos para uma banda famosa da época, a casa estava lotada. Eu estava pronto, tocando o que praticava diariamente, fazendo o que eu gostava de fazer, do meu jeito. Todos os olhares estavam em mim. [...] Quando estou fazendo o que sei fazer, o que me preparei, faço de qualquer lugar um palco. Nessas horas quero olhares atentos. Olhares sinceros valem mais que aplausos.
Nas ruas não suporto olhares. Sempre que surpreendo um deles, eles confessam. Olham [...] com desdém para a minha barba grande demais; [...]
Existem também os olhares que conversam. Mas esses requerem amizades mais duradouras. Decisões já foram tomadas nesses olhares. Discussões foram evitadas nesses olhares. Vidas foram transformadas. [...]
Olhares são fundamentais. Enquanto não entendemos um olhar, não conhecemos a pessoa o suficiente. E aqui retorno ao início do texto. Ela me lançou um olhar. Lá, do outro lado da sala, [...] e foi um daqueles olhares. Durou dois segundos. Tenho certeza disso.
Texto 2
Dom Casmurro
Capítulo XXXII
Olhos de ressaca
[...] Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exacta e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastámos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. [...]
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. In: ______. Obras Completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 32. Fragmento. Mantida a ortografia original do texto.
Esses textos, apesar de pertencerem a períodos históricos distintos, apresentam em comum
a reflexão sobre relacionamentos amorosos.
a valorização dos recursos naturais.
a visão pessimista do narrador.
o descontentamento do narrador com a sociedade.
o interesse pela interpretação do olhar das pessoas.
Soluções para a tarefa
Resposta:
e) O interesse pela interpretação do olhar das pessoas
O interesse pela interpretação do olhar das pessoas.
Tanto o primeiro texto quanto o segundo narram e levantam hipóteses sobre as formas de olhar e como os olhares são tidos de acordo com a opinião do eu-lírico.
O primeiro texto analisa como os olhares são diferentes à medida que as pessoas se diferenciam entre si. Sua análise psicológica tenta prever o pensamento do outro ao olhá-lo. Ele diferencia olhar estranho de olhar romântico e diferencia as sensações a cada olhar.
Machado de Assis, na obra "Dom Casmurro", narra o olhar de Capitu visto por Bentinho e expõe como o menino está apaixonado pela moça. O olhar de Capitu é tão intenso que traz a sensação de ressaca praiana a Bentinho. Ressaca que pode ser interpretada como um sentimento de tontura, de energia, de vigor e de impotência. Bentinho descreve o que lhe chama atenção em Capitu, mas foca em seu olhar e como ele lhe absorvia e lhe possuía.
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