Leia os dois fragmentos abaixo.
I. É necessário, pois, aceitar como princípio e ponto de partida o fato de que existe uma hierarquia de raças e civilizações, e que nós pertencemos a raça e civili za - ção superiores, reconhecendo ainda que a supe rio - ridade confere direitos, mas, em contrapartida, impõe obrigações estritas. A legitimação básica da conquista de povos nativos é a convicção de nossa superioridade, não simplesmente nossa superioridade mecânica, econômica e militar, mas nossa superioridade moral. Nossa dignidade se baseia nessa qualidade, e ela funda nosso direito de dirigir o resto da humanidade. O poder material é apenas um meio para esse fim.
(Declaração do francês Jules Harmand, em 1910. Apud: Edward Said. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. Adaptado).
II. (...) apesar das suas diferenças, os ingleses e os fran - ceses viam o Oriente como uma entidade geo gr áfica — e cultural, política, demográfica, sociológica e histórica — sobre cujos destinos eles acreditavam ter um direito tradicional. Para eles, o Oriente não era nenhuma descoberta repentina, mas uma área ao leste da Europa cujo valor principal era definido unifor - memente em termos de Europa, mais particularmente em termos que reivindicavam especificamente para a Europa — para a ciência, a erudição, o entendimento e a administração da Europa — o crédito por ter transformado o Oriente naquilo que era.
(Edward Said. Orientalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1990).
a) Identifique a principal ideia defendida no texto I e explique sua relação com a expansão imperialista europeia no final do século XIX.
b) Relacione o texto I com o texto II, quanto à concepção política neles presente.
Soluções para a tarefa
Esse pensamento resultaria, de acordo com a ótica em questão, no direito de os países imperialistas conquistarem os povos "inferiores". Por outro lado, os dominadores teriam o dever moral de oferecer aos povos dominados os mesmos benefícios da civilização.
b) O segundo texto reprova o suposto "direito" que está sendo defendido no primeiro texto, de que os europeus devessem dominar as populações orientais, calcados na pretensiosa "superioridade" pertencente aos europeus.
Esta refutação está baseada na ideia de que cada população deu a sua importante contribuição, e que, muitas vezes, os europeus imperialistas se apropriaram de tais contribuições.
a) A principal ideia contida no texto I é a “superioridade” europeia fundada na concepção de que existe uma “hierarquia de raças”.
Por sua vez, essa concepção de “superioridade” serviu como justificativa política e ideológica entre as potências de então para o exercício do domínio na África e Ásia sob diversas formas, com a finalidade de obter matérias-primas, ampliar mercados de consumo e dispor de áreas onde pudessem investir excedentes de capitais.
b) O texto I expressa o conteúdo ideológico do imperialismo fundado na ideia de superioridade racial e tecnológica sobre os demais povos.
O texto II expressa uma posição crítica em relação ao imperialismo. Afirma que, para ingleses e franceses, apesar das diferenças, viam o Oriente como “entidade geográfica” que se prestava aos interesses da Europa – para a “ciência”, “erudição”, “entendimento e a administração da Europa”.
O primeiro texto (1910) expressa as concepções então correntes na Europa a respeito dos povos não europeus, com um conteúdo racista, no início do século XX. O segundo texto (1990) expressa a concepção contemporânea que se posiciona criticamente em relação ao imperialismo.