Leia o trecho de um conto do escritor moçambicano Mia Couto.
Falas do velho tuga
Quer que eu lhe fale de mim, quer saber de um velho asilado que nem sequer é capaz de se mexer da cama? Sobre mim sou o menos indicado para falar. E sabe porquê? Porque estranhas névoas me afastaram de mim. E agora, que estou no final de mim, não recordo ter nunca vivido.
Estou deitado neste mesmo leito há cinco anos. As paredes em volta parecem já forrar a minha inteira alma. Já nem distingo corpo do colchão. Ambos têm o mesmo cheiro, a mesma cor: o cheiro e cor da morte. Morrer, para mim, sempre foi o grande acontecimento, a surpresa súbita. Afinal, não me coube tal destino. Vou falecendo nesta grande mentira que é a imobilidade.
[...]
África: comecei a vê-la através da febre. Foi há muitos anos, num hospital da pequena vila, mal eu tinha chegado. Eu era já um funcionário de carreira, homem feito e preenchido. Estava preparado para os ossos do ofício, mas não estava habilitado às intempéries do clima. Os acessos da malária me sacudiam na cama do hospital apenas uma semana após ter desembarcado. As tremuras me faziam estranho efeito: eu me separava de mim como duas placas que se descolam à força de serem abanadas.
COUTO, Mia. Contos do nascer da Terra. Lisboa: Editorial Caminho, 1997.
Ao mencionar ter sido contaminado por malária, a intenção do narrador-personagem é
A) alertar seu interlocutor sobre as consequências da doença.
B) detalhar sua experiência de chegada ao continente africano.
C) enfatizar a afirmação de que é incapaz de narrar memórias.
D) explicitar o motivo pelo qual está imobilizado há cinco anos.
E) justificar o cheiro e a cor de morte que o próprio corpo tem.
belottoo:
tmb precisoooo
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um bom dia a todos
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Letra A: lendo o trecho de um conto do escritor moçambicano Mia Couto, tem-se que, ao mencionar sua infecção por malária, a intenção do narrador-personagem é de alertar seu interlocutor sobre as consequências da doença, estando ele internado há cinco anos, além de contar como é tal experiência.
O homem demonstra que seu estado é tão lastimável e sua vida tão monótona que a morte lhe seria a única novidade. Tudo lhe parece levar a tal destino; ele sente-se, aos poucos, morrendo a cada dia e, ainda assim, por tão difícil e repetitiva que lhe é a vida, a morte acaba parecendo como um tipo de libertação.
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