LEIA O TRECHO DA CRÔNICA DE MARINA COLASANTI
EU SEI, MAIS NAO DEVIA
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.(...)
8) Os parágrafos são iniciados com "A gente se acostuma..." Qual e a figura de linguagem de repetição e qual a intencionalidade em se repetir o trecho?
a) Metáfora, e utilizada pela autora para comparar elementos no texto.
b) Anáfora, ao fazer uso dessa figura, compreende-se que a autora demonstra no texto a ideia de que o ato de se acostumar e um fato e não somente uma suposição, reforçando o tema central do texto.
c) Catáfora, a autora utiliza essa figura para se referir à algo posteriormente.
d) Personificação, a autora utiliza para dar vida a elementos inanimados.
9) No texto acima, que frase evidencia a consciência da cronista Marina Colasanti sobre o assunto?
a) "Eu sei, mais não devia".
b) "A gente se acostuma".
c) "Hoje não posso ir".
d) "A sair do trabalho porque ja e noite"
Soluções para a tarefa
Na questão 8, tem-se que a figura de linguagem é:
B) a anáfora, e sua intenção é intensificar o tema do poema, acostumar, porque pela repetição constante, "a gente se acostuma..."
Na questão 9, a resposta é:
A) "Eu sei, mas não devia".
Ela está ciente de uma situação que não deveria existir, e não de uma situação da qual ela não deveria saber.
⇒Em outras palavras, ela não deveria saber porque o narrado na crônica nem deveria ser fato, não deveria ser parte do quotidiano.
Interpretação de "Eu sei, mas não devia"
A crônica "Eu sei, mas não devia", publicada por M. Colasanti no Jornal do Brasil em 1972, leva à reflexão de sobre como, muitas vezes, deixa-se de viver uma vida plena aos poucos, sem se dar conta disso.
Isto é evidenciado pela construção semântica do poema em gradações de menos isso ou aquilo na vida das pessoas.
Analisando o texto do início ao fim percebe-se intuitivamente como a vida passa por "nós", no texto, o a gente, ou o agente, porque por polissemia e homofonia ele é aquele que age, ou deveria agir, mas não age mais e se acostuma, fica indiferente e aceita menos do que poderia ter.
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