Leia o trecho a seguir:
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas.
Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de
ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do
pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras
como "data natalícia" e "saudade".
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos
imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava
as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina, Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Com base na leitura do fragmento, assinale a alternativa que traz uma informação implícita:
A
A narradora gostava mais de cartões-postais do que de livros.
B
A narradora tinha um pai dono de livraria.
C
A colega da narradora lia todos os livros da loja do pai.
D
A narradora preferiria receber livros de presente de aniversário, no lugar de cartões-postais.
Soluções para a tarefa
Resposta:
C
Explicação: A narradora explica a vida de uma garota, provavelmente sua colega de turma, que o pai tinha uma livraria
Está implícito no texto que a narradora preferiria receber livros de presente de aniversário, no lugar de cartões-postais. Alternativa D.
O texto de Clarice Lispector é um relato da infância, em que ela lembra de um episódio com uma colega de escola. Boa parte do texto é a descrição dessa colega, ou a criação dessa personagem.
A colega era filha de um dono de livraria, mas dava pouca importância para os livros, enquanto a narradora gostava muito deles. Tudo que a narradora queria fazer era ler, mas ela tinha pouco acesso aos livros. Nos aniversários, ganhava só cartões-postais, o que não a deixava feliz. Preferia ter os livros da colega e implorava pelo empréstimo desses livros.
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