Leia o título da crônica Episódio verídico com Silva que informações e dados pelo uso do adjetivo verídico
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O que vou contar é real. É um fato fugaz que aconteceu numa distante madrugada urbana. Tinha chegado em casa bem tarde vindo do serviço. Sobre o fogão de quatro bocas, desligado, repousavam as panelas com comida para requentar. Ia ser a janta. Acendo o gás, ligo o exaustor. O cheiro de tempero chega à rua. Enquanto espero aquecer o arroz, o feijão, o bife e uma verdura, alguém preme a campainha junto ao portão de ferro. Na época, o portãozinho já diferenciava casa de prédio de apartamentos. Quem tocara a campainha fora o Silva. Estava acordado. E com fome.
Nunca soube se o Silva tivera nome quando criança, se fora moleque, possuíra carteira de identidade, título de eleitor, ou outro documento que as pessoas carregam enquanto respiram. O Silva era simplesmente Silva. Vivia nas ruas educado pelo relento. Não se vestia de andrajos. No inverno conseguia sempre descolar uns agasalhos. No verão usava camisetas. Nas garoas protegia a cabeça com chapéu ou boné. E nos dias de chuva dava no pé, desaparecia por completo. Gastos e esfolados os sapatos mantinham sinais de que tinham pertencido a pés abonados. Enfim, mesmo com a imagem dissimulada de pobreza, o Silva distinguia-se da miséria coberta de jornais, folhas de papelão e trapos de mendigos. Se não fosse andarilho de barba, o Silva seria confundido como um cidadão comum. Na pior, mas quase comum.