Leia o texto e responda à questão 07.
MEDO DA ETERNIDADE
Clarice Lispector
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático
contato com a eternidade.
Quando eu era muito pequena ainda não
tinha provado chicles e
mesmo
em Recife
falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem que
espécie de bala ou de bombom se tratava.
Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para
comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não
sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou
e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
Tome cuidado para não perder, porque
essa bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
- Como não acaba? - Parei um instante na
rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
Eu estava boba: parecia-me ter sido
transportada para o reino de histórias de
príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha
cor-de-rosa que representava o elixir do longo
prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar
no milagre. Eu que, como outras crianças, às
vezes tirava da boca uma bala ainda inteira,
para chupar depois, só para fazê-la durar mais.
E eis me com aquela coisa cor-de-rosa, de
aparência tão inocente, tornando possível o
mundo impossível do qual eu já começara a me
dar conta.
Com delicadeza, terminei afinal pondo o
chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - perguntei
para não errar no ritual que certamente deveria
haver.
-- Agora chupe o chicle para ir gostando do
docinho dele, e só depois que passar o gosto
você começa a mastigar. E aí mastiga a vida
inteira. A menos que você perca, eu já perdi
vários.
Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não
podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa,
encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê
Comecei a mastigar e em breve tinha na boca
aquele puxa-puxa cinzento de borracha que
não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava
Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu nã
estava gostando do gosto. E a vantagem de s
bala eterna me enchia de uma espécie de med
como se tem diante da ideia de eternidade ou
infinito.
Eu não quis confessar que não estava
altura da eternidade. Que só me dava era afliç
Enquanto isso, eu mastigava obedienteme
sem parar.
Até que não suportei mais, e, atravessa
o portão da escola, dei um jeito de oc
mastigado cair no chão de areia.
LISPECTOR, Clarice. Aprendendo a Viver. 1 ed. Rio de
Janeiro: Roccodigital, 2004. (ebook).
Questão 07
No texto, a história acontece
A) no portão da escola.
B) no quarto das irmãs à noite.
C) no trajeto de casa para a escola.
D) na rua enquanto estavam paradas.
Avaliação da Aprendizagem em Processo - 29 Bimestre de 2020. Prova do Aluno - 79 ano do Ensino Fundamental
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Resposta:
Resposta:(c)no trajeto de casa para a escola
Explicação:
Explicação: não é a (a) pois só depois que ela chegou na escola que ela jogou o chiclete fora
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