Leia o texto abaixo para responder às próximas questões.
O ESPIRRO NOS TEMPOS DE CORONA
Escrito por Renan Mariano junho 14, 2020 (Adaptado)
Fila do supermercado. [...] Na minha frente, em primeiro, estava uma senhorinha magra, curvada, de cabelos curtos e totalmente brancos, integrante de longa data do grupo de risco da covid-19. (Não entendi por que ela não estava na fila preferencial.) Todos de máscara, sem exceção: do pessoal da limpeza aos operadores de caixa, da criança ao idoso. Não percebi São Paulo adormecendo tanto assim durante esses meses de quarentena, mas a máscara todo mundo aprendeu a usar. Por decreto.
[...]
A mulher que estava passando as compras usava o perfume mais doce, mais forte e mais enjoativo que eu já senti na vida. Certamente ela estava infestada de coronavírus, pois não acredito ser possível alguém tomar banho com um perfume daquele sem estar sofrendo de perda de olfato. É a única explicação que a isenta de culpa, coitada. Senti a sua essência repulsiva quando ela passou por mim para pegar uma Coca-cola na geladeirinha do corredor da fila, e depois ao voltar rapidinho para o caixa. Fiquei com pena da senhorinha imediatamente atrás dela e à minha frente: as coisas em seu metro quadrado, mais próximo da cheirosa, não deviam estar nada fáceis. O rastro de fragrância que a mulher deixou entrou com tudo em minhas narinas, que, num vacilo meu, não estavam cobertas pela máscara naquele maldito instante. Meu nariz começou a formigar.
O fato é que eu sou desses que espirra muito. Desde sempre, desde que me entendo por gente. Eu espirro mesmo, sem dignidade, por qualquer coisa: perfume, poeira, gato. [...]
Só tive tempo de levantar o meu braço e de aproximar o meu nariz da dobra interna do cotovelo, como manda a tal da etiqueta respiratória. E assim espirrei. E que espirro! Digno de nota. Sem discrição nenhuma. Um espirro de emagrecer, de purificar a alma, exorcizando todos os meus demônios e os obrigando inclusive a pedirem desculpas pelo encosto. Espirrei alto, um espirro único e demorado, como um peão que sustenta o toque de um berrante para chamar atenção do gado. Tão forte que permaneci ainda por vários segundos com o nariz escondido no cotovelo, de olhos fechados e experimentando certa vertigem. [...]
A senhorinha do grupo do risco, a primeira da fila, voltou-se para mim, é claro. Feito o gato-deus assistindo à minha tragédia com o seu olhar pungente. Olhei pra ela meio envergonhado. Naturalmente, supus que ela estivesse assustada por trás de sua máscara e me desculpei fazendo piada da situação. No entanto, para a minha surpresa, me dei conta de que ela era a minha cúmplice quando apontou discretamente para a mulher com o perfume enjoativo, deixando claro em gestos que sabia que a cheirosa era a causadora da minha perturbação.
E não satisfeita, a velha ainda se aproximou de mim, valente. "Isso é espirro de rinite, do perfume dela", sussurrou. E completou: "Você não percebeu por causa da máscara, mas na verdade eu estava sorrindo pra você assim que você me olhou após o seu espirro. Não se preocupe, jovem”. E então, serena, ela se virou novamente para a frente da fila. Era a sua vez no caixa.
Pensando bem, talvez essa seja uma das maiores oportunidades trazidas pela pandemia em meio a uma sociedade que teve que esconder a boca atrás da máscara: a oportunidade de aprender a decifrar os sorrisos contidos nos olhares.
7) A respeito do texto lido é correto afirmar: *
( ) Trata-se de uma crônica, uma vez que explora com humor e leveza um fato do cotidiano.
( ) Trata-se de um artigo de opinião, pois o autor deixa clara a opinião dele sobre o uso da máscara.
( ) Trata-se de uma notícia, pois informa o leitor sobre um fato ocorrido em um supermercado.
( ) Trata-se de um romance, uma vez que narra os fatos e divide a história em vários capítulos.
8) O texto nos surpreende porque *
( ) Ao lermos o texto, descobrimos que várias pessoas passam as mesmas situações constrangedoras no dia-a-dia.
( ) O final do texto traz uma reflexão sobre os sorrisos que não era esperada diante do título e do tema principal da narrativa.
( ) O autor fala de algo que, com certeza, aconteceu com ele próprio.
( ) A descrição do espirro dado pelo personagem é descrita em seus pequenos detalhes, permitindo ao leitor imaginar a situação como se estivesse na fila do supermercado.
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É a respeito do texto lido é correto afirmar
JVZIN06:
??
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