Música, perguntado por eulumenezess, 9 meses atrás

Leia o texto abaixo, escrito por Zuza Homem de Mello, publicado em 29 de junho de 1985 em O Estado de S. Paulo. Este texto também foi publicado no livro Música com Z, que reúne textos do autor. Depois faça o que se pede. (Se preferirem, podem ler no PDF que anexei no caderno) João Gilberto Mais da metade das pessoas, convidados em sua maioria, estava incrédula. Até um dos sócios da casa tinha dúvidas: “Só Deus sabe”. Informações de cocheira diziam que o homem tinha chegado do Rio às sete da noite e que já estava na “Caravela”. Enquanto os microfones eram ajustados à frente de um cortinado vermelho, os convidados entretinham-se comentando: “Será que ele vem cantar aqui?”. Foi mesmo uma surpresa quando João Gilberto apareceu naquela plataforma elevada, supostamente o palco do Latitude 3001, autointitulada, sem nenhuma modéstia e completa ignorância do ridículo, de “melhor casa de espetáculos da América Latina”. Céus! Assiste-se de pé, com o pescoço duro, como um teatro de João Minhoca, naquele ambiente de uma bizarria ilusoriamente kitsch. De terno e gravata como sempre, ele sentou-se, fez-se um silêncio respeitoso, e João voltou a cantar, começando exatamente com “Voltei a cantar”, de Lamartine Babo, com seus sustenidos e bemóis, terminando no tom menor. O violão executado com uma precisão rítmica micrométrica, a dicção claríssima, a voz brilhando de polimento, a rigorosa fidelidade de repertório e o balanço irresistível do samba. O samba do Brasil foi o grande mote desses 50 minutos em que João desencavou preciosidades que, para alguns, eram lembranças de uma infância longínqua, quando se ligava o rádio para ouvir música. E ouvia-se. João recriou impecavelmente, com sua compreensão musical de mestre, “Emília”, interpretada por Vassourinha em 1941, “Abre a janela”, por Orlando Silva em 1937, “Pra que discutir com madame” pelos Trigêmeos Vocalistas em 1945, “Preconceito”, por Orlando em 1941, e outros mais conhecidos, mas da mesma época, como “Louco”, “Aos pés da cruz” e “Sem compromisso”. Até uma marcha ufanista, “Bandeira do Brasil”, em que ele deitou e rolou sobre o ritmo binário. São músicas de Assis Valente, Roberto Roberti, Alcyr Pires Vermelho, Wilson Batista, Geraldo Pereira, Marino Pinto, Zé da Zilda, Haroldo Lobo e da dupla Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa, autores do “Adeus América”, interpretada por Os Cariocas em 1948, que também cantou, simbolizando sua mensagem para o Brasil da Nova República: o samba mandou chamar a todos por meio de João Gilberto. É hora de dizer adeus ao boogie-woogie, chega de rocks e pinotes, isso não nos convém. É hora de voltar para a cuíca, bater na barrica e tocar tamborim. Chega de “laites” e “olrraites”, “zikipaike” e “gudinaite”, que isso não dá mais. O samba mandou nos chamar. É João Gilberto quem está mandando esse recado moçada. Nota: A casa de shows Latitude 3001 foi construída na avenida 23 de maio, nº 3001, no trecho ascendente em direção ao centro. Basicamente uma danceteria, apresentou o show internacional de Nina Hagen e de grupos de rock brasileiros, como o Barão Vermelho, que poderia simbolizar a linha mestra das atrações da casa. Em forma de uma caravela quinhentista, era o que havia de mais excêntrico e de pior gosto na cidade, despertando grande curiosidade aos que quisessem entender como seu interior, aparentemente tão impróprio para a função a que se destinava, poderia abrigar palco, plateia, bar e pista de dança. Pois tinha muito mais: restaurante, um porão com jogos eletrônicos, um lago artificial, um bosque e modelos vivos numa vitrine, piratas duelando, uma sereia e uma figura fazendo ioga. Foi em meio a essa bizarra parafernália que João Gilberto, surpreendentemente, cantou. Por que pareceu tão inusitado ao autor o fato de João Gilberto cantar no Latitude 3001?

Soluções para a tarefa

Respondido por melanielimabr
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Você deveria ter explicado tbm pra poder entender :^

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