Leia o texto abaixo e responda às questões propostas.
REPUTAÇÃO ILIBADA
Há, no Brasil, cargos para os quais a lei exige reputação ilibada, ou seja, fama ou renome sem mancha. Servem de exemplo ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Para outros, o que é verdadeiro paradoxo criado pelo constituinte de 1988, reputação ilibada não basta, pois para o ministro do Tribunal de Contas da União a Constituição também impõe a idoneidade moral. Não é fácil explicar para que serve a dupla imposição, quando dispensada nas duas mais importantes cortes judiciárias do país. Sugeriria a insuficiência da reputação sem mácula, o que levaria ao absurdo.
As distinções oferecem outras curiosidades. Os ministros do STF e do STJ devem ter notável saber jurídico, mas basta, para os do Tribunal de Contas da União, o notório conhecimento jurídico, entre outras qualidades.
A distinção é inócua, embora os juristas digam que a lei não contém vocábulos inúteis. Saber e conhecimento, tanto quanto notável e notório, são palavras ocas. Dependem dos valores subjetivos de quem as aplique.
Para presidente da República, para deputado e senador, nada disso é exigido. Eleitos pelo voto popular, submetem-se a variáveis limites de idade. Não carecem de saber ou conhecimento. Basta que não sejam analfabetos. O presidente da República deve cumprir a lei e manter a probidade administrativa, mas nem sequer pode ser processado por crimes comuns, como aconteceria com o adultério não perdoado pela mulher.
Nos Estados Unidos, sob desculpa de exigirem reputação ilibada de seu presidente, os discursos moralistas esquecem a história.
Clinton errou e errou feio, mas não está só. Houve líderes de porte, mas maridos nem sempre fidelíssimos, como Roosevelt e John Kennedy, este com a vantagem do inegável bom gosto. (…)
A palavra decoro tem uma certa vantagem para definir o que se espera dos líderes políticos. É lamentável que, muitas vezes, decoro seja confundido com a ação que, embora irregular, termina sem ser descoberta. No processo por ofensa ao decoro, o senso de justiça se afoga na valoração política e no escândalo da mídia, interferindo contra ou a favor do acusado.
(Walter Ceneviva, Folha de S. Paulo, 12/09/99)
Vocabulário
Inócuo = que não produz o efeito pretendido.
1)Leia o seguinte fragmento do texto: “É lamentável que, muitas vezes, decoro seja confundido com a ação que, embora seja irregular, termina sem ser descoberta”. A intenção do autor é
a) denunciar a hipocrisia na preservação do decoro.
b) ignorar a dicotomia pensamento/ação.
c) legitimar o duplo sentido da palavra decoro.
d) confundir decoro com punibilidade.
e) dissociar o senso de justiça da valoração política.
2) Esta afirmação: “Dependem dos valores subjetivos de quem as aplique” significa:
a) modificam os valores de quem as enuncia.
b) têm seus sentidos fixados apenas nos dicionários.
c) referem-se àqueles que a utilizam.
d) tomam significado de acordo com padrões individuais.
e) caracterizam-se pela univocidade.
3) Em: “Basta que [os candidatos] não sejam analfabetos”, o termo destacado exerce a função sintática de:
a) predicativo do objeto
b) predicativo do sujeito
c) objeto direto
d) objeto indireto
e) adjunto adverbial
4) Com base neste enunciado do texto: “Saber e conhecimento, tanto quanto notável e notório, são palavras ocas”, identifique abaixo qual alternativa possui o mesmo tipo de predicado, ou seja, o que introduz um estado, uma qualidade do sujeito.
a) “Constituição também impõe a idoneidade moral.”
b) “As distinções oferecem outras curiosidades.”
c) “Basta que [os candidatos] não sejam analfabetos ...”
d) “... a lei não contém vocábulos inúteis.”
e) “... os discursos moralistas esquecem a história.”
Soluções para a tarefa
1. Nesse fragmento do texto, a intenção do autor é:
a) denunciar a hipocrisia na preservação do decoro.
2. Esta afirmação significa:
c) tomam significado de acordo com padrões individuais.
3. O termo destacado exerce a função sintática de:
b) predicativo do sujeito
4. Há predicado que introduz um estado, uma qualidade do sujeito, em:
c) “Basta que [os candidatos] não sejam analfabetos ...”
Explicação:
1. A hipocrisia ocorre quando um político afirma que tem decoro (decência, dignidade, honradez), mas muitas vezes a falta de decoro não é descoberta. Por isso, o autor lamenta que ter decoro seja confundido com não ter as ações indevidas reveladas.
2. Valores subjetivos estão relacionados a padrões individuais, particulares, ou seja, dizem respeito a cada pessoa. Não é algo coletivo.
3. Imagino que o termo destacado seja "analfabetos", que indica uma característica do sujeito "os candidatos". Por isso, é classificado como predicativo do sujeito.
4. O predicado é "não sejam analfabetos". É classificado como predicado nominal, pois o núcleo é um nome: o adjetivo "analfabetos".
Sua estrutura é formada por verbo de ligação ("sejam") + predicativo ("analfabetos").
Esse predicado indica uma qualidade do sujeito "os candidatos".