Leia o texto a seguir:
O TRÁFEGO
Ele desabrocha como uma flor de fumo, entre o estrupir de motores, àquela hora antiga, cheia de perdida doçura, que vinha na voz dos pássaros cantores, no badalar dos sinos pregoeiros. Esse vasto inferno pessoal e desagregado de agora, esse tumulto de rostos sem claridade, acontece àquela hora antiga em que a noite começava a lamber silenciosamente a forma das coisas, e o homem, vencedor de mais um dia na Terra, recolhia o pensamento para dentro de si mesmo, como um pássaro de voo autônomo esquadrinhando as regiões de sua própria conquista. A pequenez do homem no meio da rua, evadido dos escritórios e fábricas às seis horas da tarde, sua face abatida, seu olho doloroso e remoto, como ressalta nesta hora dita crepuscular pelos habitantes do outrora!
Faz ainda tão pouco tempo que se esboroou esse continente de demarcação entre o homem e as coisas, entre o homem e outros homens, entre o homem e as dobras de si mesmo; faz ainda tão pouco tempo que seus ouvidos captavam o dobrar dos sinos na tarde azulada, e seus olhos se enchiam da claridade agônica do sol resistindo na faixa de luz elétrica dos primeiros postes acesos; faz ainda tão pouco tempo que tudo isto aconteceu, que o homem no meio da rua, escravo entre buzinas e jogos de luz, ainda carrega no olho derrotado uma sombra caleidoscópia desse mundo morto.
Daí, pensa Menino de Asas, o vinco doloroso que marca seu rosto, a saudade que o devasta às seis horas da tarde e faz dele um ser escuro de poeira, um noturno morcego saltivoando desengonçado e infeliz no pretume do asfalto.
Contudo, esse homem ainda carrega nas narinas entupidas de fumaça o perfume daquelas tardes lentas arrumadas de propósito para seu refrigério; ainda lhe varam as ouças os amáveis rumores que presidiram à sua infância; ainda coaxam em seus ouvidos o silvo dos ventos, o mugir das águas de sua terra; ainda dorme nele uma faixa de solidão não contaminada, uma zona sensível à simplicidade dos elementos, aos sons de outrora, à vida de outrora.
Homero Homem, Menino de Asas, São Paulo, Editora Ática, 1979, 13ª edição, capítulo 12.
01. Leia o trecho a seguir: “... na sombra caleidoscópia desse mundo morto...”. Releia o texto e marque a alternativa correta.
a) O outrora já vai longe, o homem não guarda dele nem a sombra.
b) Há pouco tempo passou o outrora, o homem guarda dele mil pedaços coloridos.
02. Como Menino de Asas enxerga esse homem. Assinale a alternativa correta.
a) Passeando perfumado pelas tardes lentas.
b) Saltivoando como um morcego, sujo e infeliz.
03. As situações dramáticas no Romance Menino de Asas formam...
a) várias células dramáticas, ou seja, vários conflitos.
b) uma única célula dramática, com um único conflito gerador.
04. Os personagens chamados de antagonistas são aqueles que:
a) chegam antes dos outros em qualquer lugar.
b) geram conflitos no protagonista.
05. Marque a alternativa em que há o emprego da linguagem informal.
a) Daí, pensa Menino de Asas, o vinco doloroso que marca seu rosto, a saudade que o devasta às seis horas da tarde e faz dele um ser escuro de poeira, um noturno morcego saltivoando desengonçado e infeliz no pretume do asfalto.
b) Contudo, esse homem ainda carrega nas narinas entupidas de fumaça o perfume daquelas tardes lentas arrumadas de propósito para seu refrigério.
06. O autor ao iniciar o texto, fazendo o emprego do pronome em 3ª pessoa, ele está utilizando que tipo de discurso?
a) Discurso direto.
b) Discurso indireto.
07. Marque a alternativa que faz a associação correta as sensações que restam ao “homem da rua”.
(A) Sensações visuais (através da visão).
(B) sensações auditivas (através da audição).
(C)sensações olfativas (através do olfato).
( ) perfume daquelas tardes...
( ) sombra caleidoscópia...
( ) o silvo dos ventos, o mugir das águas coaxam...
Assinale a ordem correta dos fatos:
a) A – C – B
b) B – A – C
c) C – A – B
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Respondido por
2
1-a), só pode ser a letra a) porque não tem como guardar mil pedacinhos de mim.
coelhapandinha:
ta bom
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