Leia o texto a seguir:
Capítulo LIV - A PÊNDULA
1 Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dous sacos, o da vida e o da morte, a tirar as moedas da vida para dá-las à morte, e a contá-las assim:
2 — Outra de menos...
3 — Outra de menos...
4 — Outra de menos...
5 — Outra de menos...
6 O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo, é perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
7 Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados. De certo tempo em diante não ouvi cousa nenhuma, porque o meu pensamento, ardiloso e traquinas, saltou pela janela fora e bateu as asas na direção da casa de Virgília. Aí achou no peitoril de uma janela o pensamento de Virgília, saudaram-se e ficaram de palestra. Nós a rolarmos na cama, talvez com frio, necessitados de repouso, e os dous vadios ali postos, a repetirem o velho diálogo de Adão e Eva.
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. In: Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994, v. I – Romance. p. 569.
O narrador, Brás Cubas, não conseguiu dormir porque:
A foi incomodado pelo som monótono da pêndula do relógio.
B
o tique-taque do relógio lembrava-lhe constantemente o escoar do tempo e a fatalidade da morte.
C
estava ansioso e o tique-taque do relógio marcava a lenta aproximação de um novo encontro com Virgília.
D
pensava no beijo de Virgília e o relógio marcava o tempo perdido no descanso noturno.
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Resposta:
Letra "C" estava ansioso e o tique-taque do relógio marcava a lenta aproximação de um novo encontro com Virgília.
Explicação:
No parágrafo 7 o narrador afirma que “Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados”, ou seja, o relógio não marcava mais a angústia nem a monotonia, mas o lento avanço do tempo para o novo encontro com a amante.
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