Leia o fragmento de um conto:
O pé da múmia
1. — Cinco luíses pelo pé da princesa Hermonthis é pouco, muito pouco, na verdade. Trata-se de um pé autêntico — disse o vendedor balançando a cabeça e girando os olhos nas órbitas. — Vamos, leve-o, e ainda lhe dou a embalagem de presente — acrescentou, enrolando-o num velho pano adamascado —; muito bonito, damasco verdadeiro, damasco das Índias, que nunca foi tingido de novo, forte, macio — murmurava passeando os dedos pelo tecido puído, com um resquício de hábito comercial que o fazia elogiar um objeto de tão pouco valor que ele mesmo o considerava digno de ser dado.
2. Ele colocou as moedas de ouro numa espécie de bolsa medieval presa à cintura, repetindo:
3. — O pé da princesa Hermonthis para servir de peso de papel! 4 Depois, fixando em mim suas pupilas fosfóricas, disse numa voz estridente como o miado de um gato que acabou de engolir uma espinha:
5. — O velho faraó não ficará contente, ele amava a filha, o grande homem.
6. — O senhor fala como se fosse seu contemporâneo. Apesar de velho, o senhor não é do tempo das pirâmides do Egito — respondi-lhe rindo, da porta da loja.
7. Voltei para casa bastante satisfeito com minha aquisição. Para fazer bom uso dela imediatamente, coloquei o pé da divina princesa Hermonthis sobre uma pilha de papéis. Eram esboços de versos e um mosaico indecifrável de rasuras: artigos começados, cartas esquecidas e engavetadas, algo que acontece com frequência com os distraídos. O efeito era encantador, bizarro e romântico.
8. Satisfeitíssimo com aquele embelezamento, desci para a rua e fui passear com a gravidade apropriada e o orgulho de um homem que tem, sobre todas as pessoas por quem passa, a extraordinária vantagem de possuir um pedaço da princesa Hermonthis, filha do faraó.
O clima de mistério do conto, já instaurado pela estranheza do produto vendido na loja de antiguidades, é acentuado por alguns índices sutilmente distribuídos ao longo dessa estranha negociação. Leia as referências a seguir:
I- o preço pedido pelo pé da múmia (§ 1)
II- a descrição do olhar e da voz do vendedor (§ 4)
III- a referência aos sentimentos do faraó (§ 5)
IV- o comentário do narrador/comprador sobre a fala do vendedor (§ 6)
V - a descrição da pilha de papéis sobre a mesa (§ 7)
VI- a satisfação do narrador/comprador com sua aquisição (§ 7 e § 8)
São índices do mistério e de possíveis ocorrências funestas as referências feitas apenas nos itens:
A. I, II e III
B. II, III e IV
C. III, IV e V
D. IV, V e VI
Soluções para a tarefa
Resposta: II,III e IV
Explicação:A referência I não é um índice de mistério; a afirmação de que a mercadoria era barata é tomada pelo leitor como fala normal de um vendedor.
A referência II é um índice, pois a pupilas são fosfóricas (brilham intensamente) e a voz, estridente como o miado de um gato (animal associado ao ocultismo e aos segredos da civilização egípcia nas histórias de mistério).
A referência III é um índice, pois os sentimentos do faraó sugerem que ele esteja vivo ou que seu espírito acompanhe a venda do pé da múmia. Ela sugere também que o faraó pode castigar o narrador.
A referência IV é um índice, pois, embora brincalhona, sugere que o velho pode ser muito antigo, tendo atravessado séculos, desde a civilização egípcia (a antiguidade já foi sugerida no § 2).
A referência V não é um índice, pois uma pilha de papéis é normal na mesa de um escritor.
A referência VI não é um índice, pois, se o narrador adquiriu a peça, é porque gostou dela e é natural que esteja satisfeito.
Resposta: letra B: II, III e IV
Explicação: