Leia dois trechos de letras de músicas do rapper Emicida, que fazem referência à população afrodescendente no Brasil. A seguir, leia o trecho de um texto da historiadora Lilia Schwarcz.
Texto I Todos os olhos em nóiz [...] Eles querem de nós a lamentação Subestimam demais sem ter a visão Causamos espanto quando transformamos o pranto Em coragem e superação Sou apenas mais uma na multidão Clamando por progresso e proteção Num país onde a história do negro é velada E branquificada na televisão [...] Vamo recuperando o que é nosso É sério, do estéreo, partindo do zero Um império que surgiu desses destroços [...]
Texto II Ismália
[...] A felicidade do branco é plena A felicidade do preto é quase [...] No fim das conta é tudo Ismália, Ismália Quis tocar o céu, mas terminou no chão [...] Ela quis ser chamada de morena Que isso camufla o abismo entre si e a humanidade plena [...] Oitenta tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo [...] Ter pele escura é ser Ismália, Ismália Quis tocar o céu, mas terminou no chão [...] Primeiro, sequestra eles, rouba eles, mente sobre eles Nega o Deus deles, ofende, separa eles Se algum sonho ousa correr, cê para ele E manda eles debater com a bala de vara [...]
Texto III Atualmente, com 55% de sua população composta de pardos e negros, o Brasil [...] [é] uma nação que naturaliza a desigualdade racial, na figura das empregadas domésticas, dos trabalhadores manuais, da ausência de negros nos ambientes corporativos e empresariais, nos teatros, nas salas de concerto, nos clubes e nas áreas sociais. a. Cite pontos em comum entre as letras de Emicida e o texto de Lilia Schwarcz. b. Interprete os versos: “A felicidade do branco é plena / A felicidade do preto é quase [...] // Oitenta tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo”.
Soluções para a tarefa
Resposta:
a. O texto de Lilia comenta a existência de uma desigualdade social que desvaloriza a população afrodescendente, tornando incomum sua presença em determinados espaços ligados à elite cultural e econômica. Nas letras de Emicida, a desigualdade e a exclusão podem ser encontradas em versos que falam que os negros são subestimados e sua história desconsiderada, que existe um abismo entre a realidade dos brancos e dos negros, que os sonhos dos negros são parados pelas violências que sofrem. Uma das letras fala que Ismália quis ser chamada de “morena”. Isso pode ser interpretado como um jeito de não ser classificada como “negra”. Essa seria uma forma de ela ficar mais perto dos brancos e, assim, ter mais chances sociais.
b. Os versos fazem referência ao fato de não haver igualdade de condições entre brancos e negros (os brancos podem ter uma felicidade plena e os negros, não, dadas as circunstâncias da sociedade brasileira que os discrimina). Ao se referir ao músico negro que levou oitenta tiros, o autor chama a atenção para o fato de os negros serem mais vítimas da violência oficial – sendo associados com frequência ao cometimento de crimes e considerados mais suspeitos – do que os brancos.
Explicação:
Espero ter ajudado!!
a) Tanto a canção do Emicida quanto o texto referencial de Lilia Schwarcz demonstram que o racismo é ativo e perpassa todos os cenários do Brasil. Casos em que o preto sempre é menosprezado, injustiçado, violentado culminam em nossa esfera pública e privada.
Lilia Schwarcz evidencia que, nos trabalhos urbanos, a taxa de ocupação dos trabalhos empresariais para negros é baixíssima, tendo em vista que homens brancos costumam ser chefes, já os pretos, zeladores ou operários.
A canção do Emicida traz essa perspectiva ao elucidar que a vida do preto é difícil e suas dificuldades, árduas. Muitos não têm felicidade e são omissos em um país que precisa interceder por eles.
b) "A felicidade do branco é plena / A felicidade do preto é quase" traz a noção de que a felicidade é propícia para alguns, não para todos. Desse modo, a alegria dos pretos sempre é desconsiderada em relação aos dos brancos.
"Oitenta tiros te lembram que existe pele alva e pele alvo” remete ao caso da família que foi alvejada a tiros por PMs. Pai, mãe e filha foram mortos por 80 tiros, pois os confundiram o carro da família com o de traficantes.
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