Legado aos nossos filhos
(§ 1) Uma importante empresa financeira me chamou para falar com alguns clientes. Não sobre finanças, pois eu
os arruinaria, mas sobre algum tema "humano" – no meio da crise queriam mudar de assunto. Uma sugestão de
tema que me deram foi: "O que esperamos de nossos filhos no futuro". Como acredito que pensar é transgredir,
falei sobre "o que estamos deixando para nossos filhos". Acabamos nos dando muito bem, a excelente plateia
estava cheia de dúvidas, como a palestrante.
(§ 2) O mundo avança em vertiginosas transformações, e não é só nas finanças ou economia mundiais: ele se
transforma a todo momento em nossos usos e costumes, na vida, no trabalho, nos governos, na família, nos
modelos que nos são apresentados, em nossa capacidade de fazer descobertas, no progresso e na decadência.
(§ 3) O que nos enche de perplexidade, quando o assunto é filhos, é a parte de tudo isso que não conseguimos
controlar, que é maior do que a outra. Se há 100 anos a vida era mais previsível – o pai mandava e o resto da
família obedecia, o professor e o médico tinham autoridade absoluta, os governantes eram nossos heróis e havia
trilhas fixas a ser seguidas ou seríamos considerados
desviados –, hoje ser diferente pode dar status.
(§ 4) Gosto de pensar na perplexidade quanto ao legado
que podemos deixar no que depende de nós. Que não é
nem aquele legado alardeado por nossos pais – a educação
e o preparo – nem é o valor em dinheiro ou bens, que se
evaporam ao primeiro vendaval nas finanças ou na
política. A mim me interessam outros bens, outros
valores, os valores morais. O termo "morais" faz arquear
sobrancelhas, cheira a religiosidade ou a moralismo, a
preconceito de fariseu. Mas não é disso que falo:
moralidade não é moralismo, e moral todos temos de ter.
A gente gosta de dizer que está dando valores aos filhos.
Pergunto: que valores? Morais, ora, decência, ética,
trabalho, justiça social, por exemplo. É ótimo passar aos
filhos o senso de alguma justiça social, mas então a gente
indaga: você paga a sua empregada o mínimo que a lei
exige ou o máximo que você pode? Penso que a maioria
de nós responderia não à segunda parte da pergunta.
Então, acaba já toda a conversa sobre justiça social, pois
tudo ainda começa em casa e bem antes da escola.
(§ 5) Não adianta falar em ética, se vasculho bolsos e
gavetas de meus filhos, se escuto atrás da porta ou na extensão do telefone – a não ser que a ameaça das drogas
justifique essa atitude. Não adianta falar de justiça, se trato miseravelmente meus funcionários. Não se pode falar
em decência, se pulamos a cerca deslavadamente, quem sabe até nos fanfarronando diante dos filhos homens: ah,
o velho aqui ainda pode! Nem se deve pensar em respeito, se desrespeitamos quem nos rodeia, e isso vai dos
empregados ao parceiro ou parceira, passando pelos filhos, é claro. Se sou tirana, egoísta, bruta; se sou tola, fútil,
metida a gatinha gostosa; se vivo acima das minhas possibilidades e ensino isso aos meus filhos, o efeito sobre a
moral deles e sua visão da vida vai ser um desastre.
(§ 6) Temos então de ser modelos? Suprema chatice. Não, não temos de ser modelos: nós somos aquele primeiro
modelo que crianças recebem e assimilam, e isso passa pelo ar, pelos poros, pelas palavras, silêncios e posturas.
Gosto da historinha verdadeira de quando, esperando alguém no aeroporto, vi a meu lado uma jovem mãe com sua
filhinha de uns 5 anos, lindas e alegres. De repente, olhando para as pessoas que chegavam atrás dos grandes
vidros, a perfumada mãe disse à pequena: "Olha ali o boca-aberta do seu pai".
(§ 7) Nessa frase, que ela jamais imaginaria repetida num artigo de revista ou em palestras pelo país, a moça definia
seu ambiente familiar. Assim se definem ambientes na escola, no trabalho, nos governos, no mundo. Em casa,
para começar. O palavrório sobre o que legaremos aos nossos filhos será vazio, se nossas atitudes forem egoístas,
burras, grosseiras ou maliciosas. O resto é conversa fiada para a qual, neste tempo de graves assuntos, não temos
tempo.
Com base na leitura do § 1, é CORRETO afirmar que a autora:
a) foi convidada a falar sobre tema relativo à área de atuação da empresa.
b) fugiu ao tema sugerido com receio de causar problemas aos clientes da empresa.
c) esclareceu plenamente as dúvidas da plateia que assistiu à palestra.
d) alterou o tema sugerido visando a ajustá-lo ao enfoque pessoal que pretendia dar.
Soluções para a tarefa
Respondido por
3
Resposta:
d)
Explicação:
a) Ela foi convidade a falar um tema humano, ''Oque esperarmos de nossos filhos no futuro'' Não relativo a area de atuação da empresa- Incorreta
b) Ela não fugiu do tema por conta de receio em causar problemas aos clientes da empresa. - Incorreta
c) Isso não diz no texto. - Incorreta
d) Alterou o tema para dar enfoque pessoal. -Correta
Salvadorcraft1:
obrigado
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