Laia o texto a seguir e responda:
Acordei no dia seguinte sobressaltado, dolorido, após o esforço feito na véspera. Mal me lembrava de ter deitado para dormir. Encaixado no fundo da popa, eu não sentia o movimento do barco e só via o horizonte e as estrelas passando rápido pela janelinha. Mas, ao me levantar para ir ao trabalho, percebi que o mar piorara bastante durante a noite. Paciência! Agora era comigo mesmo. Tinha um imenso e desconhecido oceano pela frente que na verdade me atraía, e para trás, gravada na memória, uma fase dura, da qual não sentia a mínima saudade.
E comecei a remar. Remar de costas, olhando para trás, pensando para frente. Eu queria me afastar o mais rapidamente possível da costa africana. Avançava com dificuldade, devido às ondas que me molhavam a cada cinco minutos, mas não podia parar. Cada centímetro longe dessa região era de fundamental importância.
Sopram ali, o ano todo, ventos implacáveis, que movem as dunas do deserto da Namíbia e carregam a areia fina, deixando os diamantes à flor da superfície. Diamantes da mais alta qualidade (gem quality), lavados pelo mar e polidos pela areia, e em tal extensão que sua exploração é fortemente controlada e delimitada. [...]
Ao mesmo tempo, eu navegava na região que detém o recorde do maior número de naufrágios junto à costa, em tempo de paz, até 1945, de todo o continente africano. Não sem razão. Zona de ressurgência fria, com turbulências térmicas e ondas acima da altura média para sua latitude, a navegação por essas águas é dificultada por fenômenos anormais surgidos com as bruscas variações de temperatura. [...]
Naquela mesma noite fui acordado diversas vezes por ondas que golpeavam o barco com impressionante violência. O mar parecia ter enlouquecido e não havia mais nada que eu pudesse fazer a não ser permanecer deitado e rezar. Choques tremendos, um barulho assustador, tudo escuro: adormeci. E acordei, deitado no teto, quase me afogando em sacolas e roupas que me vieram à cabeça. Tudo ao contrário: eu havia capotado. Indescritível sensação! Estaria sonhando ainda?
Não. Em alguns segundos, outra onda e tudo voltava à posição normal em total desordem!
Mal tive tempo de analisar o que se passou, e o mundo deu novamente uma volta completa, tão rápida que nem cheguei a sair do lugar. [...]
Ondas altas, altíssimas, vindas de todos os lados e que, ao se encontrarem, explodiam para cima. A superfície do mar, totalmente desordenado, estava branca. A espuma, subindo pela borda e passando pela janelinha, me poupava daquele terrível e irreal cenário. Cercado de ondas que despencavam em estrondos, não tinha certeza se estava realmente flutuando. Vales e montanhas de água em desesperada batalha, em louco movimento. [...]
Engraçado como o nosso estado de espírito é relativo. Aparentemente, o lugar e a situação em que me encontrava não eram motivos de nenhuma alegria, mas o fato é que as três capotagens me deixaram eufórico. Eu deveria ter feito um teste de autoendireitamento do barco muito antes de iniciar a viagem, e isso acabou não acontecendo. Eu acabava agora de passar pela prova de fogo do projeto. [...]
Recebi a simpática visita de uma turma de golfinhos brincalhões que não quiseram ficar para o almoço. Remei sem parar até a hora do jantar e fui para o fogão. Eu cozinhava numa minipanela de pressão acoplada a um fogareiro de acendimento automático que utiliza cargas descartáveis de gás butano. Aos poucos, entrosando-me com as lides da cozinha, já não perdia mais tanto tempo para arrumar o conjunto – instalado no fundo, junto à cama, de modo que não houvesse risco de queimaduras – e em menos de vinte minutos o jantar já estava servido.
Perdi a hora no quinto dia e acordei surpreso. Um raio de sol entrava pela janelinha. Ao sair, não queria crer nos meus olhos: “navegando em mar de azeite”, diria mais tarde pelo rádio. Sem um pingo de vento, ou um centímetro de onda sequer, era difícil imaginar que fosse o mesmo Atlântico de uns dias atrás. Mais que tudo, era surpreendente o silêncio, a sensação de vácuo nos ouvidos, depois de quatro dias ensurdecedores. Podia, finalmente, sentir o barco andar com a força de minhas remadas, e ouvir o ruído da proa deslizando para longe da África.
1) O que, basicamente, distingue um relato de viagem de uma obra fictícia sobre uma viagem?
2) Do texto lido, copie um exemplo de
a) trechos narrativos, isto é, nos quais predomina o relato das ações vividas.
b) trechos descritivos, isto é, nos quais predomina a descrição de algo.
ME RESPOMDAM PLS
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Resposta: a) sim b) sim c) sim
Explicação: mi desculpa se estiver errado pq é isso que eu entendi
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