Lá no meio da floresta Amazônica, onde chove quase todo dia e as sombras ajudam a guardar a umidade, corre uma porção de rios de todos os tamanhos. Às vezes eles transbordam, invadem a terra, viram laguinhos e pântanos, e ficam por muito tempo alagando tudo. Outras vezes, são fiozinhos de água que vão engrossando, cantadores e saltitantes, em corredeiras e cascatas. E de vez em quando parece que um pedaço desses rios se desvia, contorna um bocado de terra e fica quieto em algum lugar, formando um canal chamado igarapé.
Nas terras e nas águas, tem muitas plantas. De tudo quanto é tamanho, com flor e sem flor. Mas a flor maior de todas é a vitória-régia, no meio das águas, entre folhas enormes que parecem bandejas, capazes de aguentar o peso de um pequeno animal.
Os índios dizem que nem sempre ela existiu. E contam uma história bonita para explicar como essa flor apareceu.
Dizem que há muito, muito tempo havia à beira do grande rio uma aldeia indígena [...]. Os homens da aldeia costumavam sair para caçar e pescar, e as mulheres ficavam por ali, preparando a comida, fazendo objetos de barro, tecendo as redes. [...]
Contam que nessa aldeia vivia uma cunhã muito linda. Era mesmo uma beleza a moça, e tinha muita vontade de ter uma estrela só para ela.
“Se eu subir numa árvore bem alta e chegar até o galho mais alto, talvez consiga pegar uma estrelinha para mim”, pensava ela.
Uma noite resolveu experimentar.
Esperou que todos dormissem e subiu no jequitibá mais alto que encontrou. Não adiantou nada, porque ela não conseguiu chegar nem perto das estrelas. Ficou triste e bem contrariada, mas não desistiu.
– Tenho outra ideia. Vou tentar jogar uma escada no alto do paredão da noite.
Dali a uns dias, a cunhã começou a tecer uma escada de cipó. Depois, ela aproveitou uma noite bem escura, de estrelas bem fascinantes, foi ao alto de uma pedreira que havia lá por perto, subiu na árvore mais alta que encontrou e fez várias tentativas de pescar algum daqueles pontos brilhantes. [...]
Parecia mesmo uma tarefa impossível. [...]
Mas numa noite de verão, quando a lua nasceu, as outras cunhãs a chamaram:
– Venha! Vamos tomar banho de rio!
Estava muito calor, e a ideia de um banho gostoso era tentadora. A cunhã logo se animou e foi com as amigas.
Mergulharam, nadaram, brincaram de jogar água umas nas outras. Depois, quando se cansaram, ficaram quietas, só boiando, deixando a água sustentar o corpo.
Nesse momento, a bela cunhã reparou que era possível ver a lua cheia inteirinha refletida nas águas. E montes de pequenas ondulações se repartiam em brilhos, faiscando como estrelinhas de líquido.
Teve então a ideia que faltava:
– Quem sabe eu não estava errada todo esse tempo? Eu pensava que a lua e as estrelas moravam no céu e se refletiam na água. Mas pode ser o contrário, quem sabe?
Olhou mais, pensou e concluiu:
– É isso! Elas moram no fundo do rio e se refletem no céu...
Era mesmo uma beleza. Como se a lua e as estrelas tivessem descido do alto e estivessem chamando as cunhãs para brincar.
A índia atendeu ao chamado, nadou em direção à lua refletida e mergulhou bem fundo.
Desapareceu no mistério escuro da profundeza.
Mas não desapareceu para sempre. Jaci, a lua, que tudo vê e tudo sabe, ficou com pena dela. E a transformou na maior flor da floresta, linda e perfumada.
Os índios garantem. E dizem também que é por isso que até hoje, quando é noite de lua, se abre a vitória-régia, que sobre as águas flutua.
Vocabulário
Cunhã: mulher jovem, moça. (Derivado da língua indígena).
PERGUNTAS :
Nesse texto, quem é o narrador?
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Resposta:
o sol
Explicação:
espero ter ajudado
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