JUVENTUDE E VIOLÊNCIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO (Luis Eduardo Soares, 2004)
Está em curso no Brasil um verdadeiro genocídio. A violência tem se tornado um flagelo para toda a sociedade, difundindo o sofrimento, generalizando o medo e produzindo danos profundos na economia. Entretanto, os efeitos mais graves de nossa barbárie cotidiana não se distribuem aleatoriamente. Como tudo no Brasil, também a vitimização letal se distribui de forma desigual: são sobretudo os jovens pobres e negros, do sexo masculino, entre 15 e 24 anos, que têm pago com a vida o preço de nossa insensatez coletiva. O problema alcançou um ponto tão grave que já há um déficit de jovens do sexo masculino na estrutura demográfica brasileira. Um déficit que só se verifica nas sociedades que estão em guerra. Portanto apesar de não estarmos em guerra, experimentamos as consequências típicas de uma guerra. Nesse caso, uma guerra fratricida e autofágica, na qual meninos sem perspectiva e esperança, recrutados pelo trafico de armas e drogas (e por outras dinâmicas criminais), matam seus irmãos, condenando-se também eles, a uma provável morte violenta e precoce, no círculo vicioso da tragédia.
Cerca de 45 mil brasileiros são assassinados por ano no Brasil. Em algumas regiões das grandes cidades, marcadas pelo drama da desestruturação familiar, do desemprego, da degradação da auto-estima, da falta de acesso à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, os números chegam a patamares ainda mais alarmantes. Por outro lado, enquanto o crime se organiza e penetra as instituições públicas, as polícias têm sido, com frequência inaceitável, ineficientes e, muitas vezes, desrespeitosos dos direitos humanos e das leis que lhes cabe defender. Os milhares de policiais honestos, competentes e dedicados, que arriscam diariamente suas vidas, têm trabalhado em condições técnicas e organizacionais precárias e não têm recebido o reconhecimento que merecem. [...]
É indispensável destacar a gravidade da violência doméstica e da violência de gênero, contra as mulheres, assim como de crimes como o racismo e a homofobia. São menos conhecidos, publicamente, porque menos delatados e oficialmente registrados, mas intensamente vividos, na privacidade, ou em situações públicas que as formalidades institucionais mantêm à sombra da lei, sob o manto da negligência (quase cúmplice). [...]
Um jovem pobre e negro caminhando pelas ruas de uma grande cidade brasileira é um ser socialmente invisível. Há muitos modos de ser invisível e várias razões para sê-lo. No caso desse nosso personagem, a invisibilidade decorre principalmente do preconceito ou da indiferença. Uma das formas mais eficientes de tornar alguém invisível é projetar sobre ele ou ela um estigma, um preconceito. Quando o fazemos, anulamos a pessoa e só vemos o reflexo de nossa própria intolerância. Tudo aquilo que distingue a pessoa, tornando-a um indivíduo, tudo o que nela é singular desaparece. O estigma dissolve a identidade do outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificação que lhe impomos. Quem está ali na esquina não é o Pedro, o Roberto, ou a Maria, com suas respectivas idades e histórias de vida, seus defeitos e suas
qualidades, suas emoções e seus medos, suas ambições e seus desejos. Quem está ali é o “moleque perigoso” ou a “guria perdida”, cujo comportamento passa a ser previsível. [...]
O preconceito provoca invisibilidade na medida em que projeta sobre a pessoa um estigma que a anula, a esmaga e a substitui por uma imagem caricata, que nada tem a ver com ela, mas expressa bem as limitações internas de quem projeta o preconceito. Por isso seria possível dizer que o preconceito fala mais de quem o enuncia ou projeta do que de quem o sofre, ainda que, por vezes, sofrê-lo deixe marcas. [...]
Outra forma de invisibilidade é aquela causada pela indiferença. Como a maioria de nós é indiferente aos miseráveis que se arrastam pelas esquinas feito mortos-vivos, eles se tornam invisíveis, seres socialmente invisíveis. Também por conta de nossa negligência, muitos jovens pobres, especialmente os negros, transitam invisíveis pelas grandes cidades brasileiras. [...].
1) Qual é o argumento central do autor acerca do tema, juventude e violência no Brasil contemporâneo ?
2) Como a violência, na visão do autor atinge toda a sociedade ?
3) Como o autor associa a violência e a criminalidade às questões estruturais da sociedade brasileira ?
4) Como o autor responsabiliza a outra parcela da sociedade para que a violência se perpetue na nossa sociedade ? Você concorda com essa responsabilização ? Justifique.
5) O artigo foi escrito em 2004; qual a diferença expressa pelo autor daquele período para os dias atuais ? Utilizando a sua imaginação sociológica reflita: Para onde a sociedade brasileira está caminhando ?
6) Relacione o artigo com a questão dos direitos humanos da juventude.
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