intertextualidade é um conceito que diz respeito ao diálogo que se estabelece entre textos. Como todo escritor é também um leitor, via de regra, sempre recorre à sua biblioteca pessoal, assim como ao seu conhecimento de mundo a fim de (re)criar seus textos – movimento que pode ser ou não intencional. Quando intencional, acaba sendo explicitado em determinadas passagens do texto, como ocorre com o romance Lúcia, de Gustavo Bernardo, que ocasiona um forte momento intertextual com Lucíola, de José de Alencar. Sendo assim, a coerência global dos textos depende, além dos elementos coesivos de sua superfície textual, da localização dos pontos de encontro desse movimento de diálogo entre textos.
Ciente disso, observe o microconto, de André Ricardo Aguiar (2021):
FRANKENSTEIN
Pediu a mão da noiva em
casamento. Guardava numa
caixinha.
Como o sentido desse texto se constrói por meio do movimento intertextual, tornando-o coerente?
A.
Há apenas um movimento intertextual que se localiza no título e contribui para a coerência global do texto.
B.
Há apenas um movimento intertextual que se localiza no título e em "guardava numa caixinha", mas não contribui para a coerência global do texto.
C.
Há dois movimentos intertextuais, um no título e em "guardava numa caixinha", e outro que surge em "pediu a mão", concorrentes para a coerência global do texto.
D.
Não há movimento intertextual porque a recuperação do título de outro romance não constitui intertextualidade e não colabora para a coerência global do texto.
E.
Há três movimentos intertextuais: um no título; outro em "pediu a mão"; e outro em "guardava numa caixinha" – adjacentes na construção da coerência global do texto.
Soluções para a tarefa
Resposta: Letra C
Explicação: A ideia literal de uma mão guardada em uma caixinha é, por si só, incoerente. Entretanto, o título do microconto permite ao leitor recuperar um clássico da literatura, Frankenstein,ou o Prometeu Moderno, de Mary Shelley, que estabelece o primeiro movimento intertextual. Como é sabido, nesse romance, Victor Frankenstein constrói um monstro a partir de partes de cadáveres. Várias releituras do romance, inclusive infantojuvenis, brincam com a desconexão das partes corpóreas. Assim, guardar a mão em uma caixinha torna-se coerente. Da mesma maneira, ocorre com o uso conotativo de "pedir a mão", expressão recuperada da tradição de quando um homem pedia a permissão do pai de uma moça para casar-se com ela, que estabelece o segundo movimento intertextual. Ambos os movimentos são cruciais e concorrentes para a construção da coerência global do texto.
Resposta:
Letra C - Há dois movimentos intertextuais, um no título e em "guardava numa caixinha", e outro que surge em "pediu a mão", concorrentes para a coerência global do texto.